JUREMA SAGRADA

Os Poderes Atribuidos



Desde os primeiros tempos da colonização, vários cronistas e observadores falam sobre o desenvolvimento de rituais ligados à população indígena. Por meio de cantos, danças, infusões, cachimbos e dizeres sagrados, os índios se colocavam em contato com seus antepassados e com outros seres do plano espiritual. Logicamente, aos olhos dos colonizadores e dos jesuítas, tais práticas eram um grande empecilho à divulgação da fé cristã em terras brasileiras.

Nesse conjunto de manifestações, a jurema sagrada, jurema nordestina ou catimbó, aparece como uma religião indígena, mas também influenciada por elementos dos cultos cristãos e afro-brasileiros. Antes de tudo, a jurema é uma árvore da caatinga e do agreste que tem sua casca utilizada para a fabricação de uma bebida mágica que concede força, sabedoria e contato com seres do mundo espiritual. É dessa forma que o uso da árvore desencadeia a formulação de uma experiência religiosa com mesmo nome.

Ao longo do tempo, a Jurema incorporou uma série de influências que impedem a formulação de um padrão ritualístico mais extenso. Assim, definimos como praticantes da Jurema todos aqueles que se reúnem em terreiros ou casas para realizarem a ingestão da bebida feita a partir da árvore, empregando o uso de tabaco e buscando o contato com um mundo espiritual alcançado através do transe. No mais, observamos variações que abraçam desde os elementos da Umbanda até o Cristianismo Católico.

Nos cultos da Jurema temos a figura dos mestres que ocupam a função de líderes, responsáveis pela incorporação de espíritos que curam e aconselham os praticantes, mais conhecidos como "juremeiros". Além de fornecedora de um elo com o chamado "reino dos encantados", a jurema é considerada poderosa por ter, nos tempos bíblicos, escondido Jesus Cristo quando este fugia para o Egito. Ao entrar em contato com o pé de jurema, o Salvador teria lhe preenchido com poderes diversos.

É desta planta que se origina o famoso "Vinho da Jurema", citado até na obra "Iracema", de José de Alencar :

"Através da planta, os guerreiros de Araquem entravam em comunicação com o mundo invisível"

É usada nos rituais do Catimbó e pajelanças, principalmente entre os índios Jês e Tapuias e Kariris (BR). O preparo da bebida e o cerimonial eram secretos. Era usada por médicos/feiticeiros, juntamente com o fumo e o maracá, para abençoar, aconselhar e curar. A ingestão permite ao pajé entrar em contato com seus espíritos ancestrais.

Na Umbanda, Jurema é a dona das ervas mágicas.

A fabricação da bebida sagrada conta com uma mistura que leva cascas de jurema e uma espécie de vinho preparado com álcool, mel, gengibre, hortelã, cravo e canela. Segundo alguns pesquisadores, a ingestão oral desta mistura não provoca nenhum tipo de transformação em quem a ingere. Dessa forma, tudo indica que os procedimentos ritualísticos que envolvem a ingestão, são indispensáveis para que a fórmula preparada determine o estado de transe.

As duas entidades incorporadas em uma sessão de jurema são os mestres que já se foram e os caboclos. O reconhecimento dessas entidades acontece através da observação dos gestos e falas, que o incorporado assume assim que começa dar voz a um determinado ser do mundo espiritual. Nesse âmbito, o mundo dos espíritos construído pela jurema era formado por várias cidades, sendo que cada um deles tinha capacidade de atender uma espécie de pedido.

Cercada por uma série de instrumentos, a sessão de Jurema é sonoramente povoada pela execução da maraca (um chocalho indígena feito de cabaça) e o ilu (uma espécie de tambor). Sem um conteúdo fixo, a jurema oferece os seus ditos "segredos" de forma especial a cada um dos "enjuremados". Dispostos em uma mesma roda, os participantes deste ritual pontuam mais uma das várias religiões que determinam a diversidade da cultura brasileira. 

"A cerimônia do ajucá ou jurema, praticamente desapareceu do Brasil e é um dos rituais que combina elementos cristãos, indígenas, espíritas e afro-brasileiros.

O nome jurema é originário de uma árvore (acácia jurema), cujas raízes os pajés faziam uma bebida capaz de produzir sonhos adivinhatórios.

O antigo ritual realizado pelos indígenas, supunha que os guerreiros poderiam viajar ao mundo dos espíritos tomando a poção. Os índios sonhavam, mas eram somente as mulheres que interpretavam tal sonhos e podiam revelar o passado e o futuro.

Dois grandes grupos indígenas praticavam este ritual: os jês (tapuias) e os karirís. Os detalhes destas cerimônias ficaram perdidos para sempre, pois nenhum historiador ou escritor se preocupou em escrevê-los.

Até o século XIX, o fato de beber jurema era considerado um ato de bruxaria ou prática de magia e seu uso era secreto. Alguns indígenas foram presos praticando este ritual, entretanto foram eles que ensinaram aos brancos e mestiços o uso da planta.

Existem dois tipos de jurema, a branca (Pithecolobium diversifolium) e a negra (Mimosa nigra Hub.). Os pajés indígenas elaboravam uma bebida com a jurema branca que produzia sonhos afrodisíacos e premonitórios. Também é muito usada pelos pais e mães de santo do candomblé de Pernambuco.

A infusão de jurema é preparada com suas raízes, que devem primeiro serem raspadas para eliminar a terra que nela se apresenta agregada e depois serem muito bem lavadas. 

Em seguida, a raiz deve ser colocada sobre uma pedra e macerada com a utilização de outra pedra. A massa formada deve ser diluída em um recipiente com água. Pouco a pouco a água se transforma em um líquido avermelhado e espumoso, semelhante ao vinho, motivo pelo qual é conhecido por este nome.

Esta bebida sagrada era servida em rituais não só dos indígenas, mas também nos cultos afro-brasileiros. Estes últimos acrescentavam à bebida mel, ervas e outras substâncias. Nos rituais de magia negra acrescenta-se sangue de animais. Em alguns templos, costumava-se misturar a jurema com aguardente de cana de açúcar, o que chamam de "cauim".

As folhas de jurema também são usadas secas, misturadas ao tabaco, que são fumados em cachimbos que os indígenas faziam com o tronco da jurema. O pajé coloca o cachimbo ao contrário, onde se deposita o tabaco, e sopra sobre a poção que se encontra no recipiente. Curiosamente, forma-se uma figura em forma de cruz no líquido com um ponto em cada um dos ângulos formados pelos braços da cruz. Os galhos e as flores da jurema são destinados à rituais de limpeza que combatem o mau-olhado e eliminam qualquer bruxaria do corpo. Também servem para que os médiuns do candomblé ou da umbanda possam ver o futuro com mais clareza. 

Em outros rituais possui a função depuradora: costuma-se soprar a fumaça nos quatro cantos do templo ou da casa, expulsando assim os maus espíritos. Em seguida, um assistente recolhe o recipiente e o deposita sobre uma esteira de palha. As mulheres mais velhas das comunidades das regiões pobres do interior são convidadas a participar na cerimônia formando um círculo ao redor da poção. Todos os participantes acendem seus cachimbos que passam de mão e mão e de boca em boca, de modo cerimonioso e fraternal.

Uma cantadeira agita as maracás feitas com cabaças, enquanto entoa hinos para evocar a Jesus Cristo, à Virgem Maria, à Padre Cícero, à cabloca Jurema e outras entidades, pedindo-lhes a bênção para todos os presentes. Elas também benzem individualmente todos os presentes. Quando a cantadeira se cansa, pede para ser substituída por outras mulheres. Ao final de algumas horas, o chefe da cerimônia serve a bebida sagrada à cada um: só podem beber dois tragos. O que sobra é jogado fora, a modo de libação, em um buraco sagrado.

Durante o transe (estado alterado de consciência) o participante, pode pedir aos santos ou entidades invocadas que lhe deixem ver com claridade o passado, presente e futuro. Também pode rezar para pedir a proteção individual ou coletiva aos espíritos protetores da natureza, geralmente de origem indígena ou afro-brasileiros. Os participantes também podem conectar os mortos. O ajucá é um dos reinos mágicos, invisíveis habitado por "espíritos dos bons conhecimentos". Um destes reinos era o da Pedra Bonita, em Pernambuco, onde até hoje existem duas enormes pedras graníticas. Ali residiu o líder de uma seita que, no século passado, ordenou o sacrifício de muitas pessoas empregando a jurema em seus rituais. Entretanto, dizem que a jurema estava adulterada por outras substâncias que levavam à loucura, como o manacá (Brunfelsia hopeana Benth), uma planta tóxica.

Existe a crença de que os mortos se encarnam em algumas árvores, especialmente na jurema. Por isso, estas árvores são sagradas no nordeste do Brasil. Em torno delas acende-se velas e costuma-se rezar. Muitos são os que pedem à planta que lhes mostre seu destino, o que na maioria das vezes é revelado através de um sonho, na mesma noite ou nas noites seguintes a petição.

Os efeitos do "vinho de jurema", são muito bem descritos por José de Alencar em seu romance Iracema.

"....Durante a preparação dos guerreiros tabajaras para a guerra com os pitiguaras, Iracema lhes serve o vinho da jurema e, enquanto os guerreiros deliram, ela ..."

Também, segundo Andrade, enraizamento linguístico do termo Yu'rema na língua tupi é um forte indício de que o uso primordial, inclusive cerimonial do vinho da Jurema, além de ser herança da cultura indígena, regional, certamente já existia antes da presença dos colonizadores.

A árvore Jurema é típica do sertão nordestino, porém se adapta muito bem em diversas outras regiões. Temos dois tipos comuns de Jurema, a branca e a preta. A diferença maior entre as Jurema branca e preta são seus troncos e galhos, onde a branca apresenta cor clara, já a preta cor escura. A palavra Jurema vem do Tupi Yú-rema que significa espinho.

Lembrando que as acásias eram sagrada para os Egípcios, Hebreu, Hindus, Árabes, Incas e vários outros povos, sendo a Jurema sagrada para os Índios.

O Vinho de Jurema como é conhecido na prática do Catimbó de Jurema, é uma fusão de entre cascos, raízes e bebidas alcoólicas inclusive o vinho tinto.

O Vinho de Jurema é muito usado nos rituais de mesa branca, gira para os encantados, curas e trabalhos espirituais.

O Vinho de Jurema proporciona para o médium uma abertura maior no transe na manifestação.

Além do espiritual o Vinho de Jurema é medicinal, usado na cicatrização de feridas, gastrite, doenças do homem e da mulher, revitalizador e estimulador sexual.

Receita Vinho de JUREMA

INGREDIENTES: de Jurema Preta (casca de raizes ou casca do tronco), sem lavar 30 grs. de tiririca (opcional). 20 grs. de cascas de Mulungu (sem lavar ou deixar ter contato com agua) 30 grs. de gengibre seco para chá ou gengibre galangal. 30 grs. de Ginseng Amazonico ou Ginseng Brasileiro (este pode ser substituido por ginseng chines ou coreano) - não pode ser usado ginseng em pó, se usa a raiz bruta. 30 grs. de nó de cachorro. 30 grs. de casca de catuaba. 4 grs. de casca de imburana. 1 semente de imburana. 15 grs. de mel cristalizado puro de abelhas. 10grs. de caldo de cana concentrado puro e sem adição de agua. 10 grs. de guaraná em pó (compre guarana em grãos e transforme em pó na sua casa, pois o guraná em pó vendido por ai tem muito amido para dar volume). 10 sementes de cacau. 1 colher (chá) de suco de milho cru. 1 litro de aguardente (preferivel). Se desejar uma mistura mais "quente e inibriante", porém mais fraca, você pode usar um vinho tinto seco de excelente qualidade (chalise, contry wine, piagentine são os mais indicados, por serem puros e baratos) - os indios antigamente usavam uma bebida de cana de açucar que era feita da seguinte forma: eles mascavam a cana e cuspiam dentro de uma especie de garrafa de barro, colocavam agua, tampavam a garrafa e enterravam esta por tres meses, depois desenterravam a bebida e usavam ela para preparar o vinho de jurema. Hoje em dia eles usam aguardente, pq se assemelha muito com a antiga bebida sagrada. 1 garrafa de vidro ambar ou uma jarra de barro com boca pequena (preferivel).

PREPARO: Triture as raizes e as sementes de imburana e cacau todas juntas em um pilão, soque até parecerem cascalhos. Despeje o principio alcoolico no recipiente de barro ou garrafa ambar. Coloque as raizes e sementes triturados no principio alcoolico que vc escolheu. Agora adicione o pó de guaraná. Coloque os cristais de mel. Despeje o caldo de cana. Adicione o suco de milho. Arrolhe muito bem a garrafa ou a jarra de barro. Derreta a cera ou parafina de uma vela ate vedar totalmente a boca do recipiente arrolhado. Enrole o recipiente na malha de palha ou no plastico e vede. Enterre a garrafa em solo de terra umida, evite solos arenosos ou com muita pedra. Deixe a garrafa enterrada de 15 dias a 1 mês. Esta pronto o vinho de Jurema.

Salve a Jurema!


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