MEDIUNIDADE II

A Substância Cósmica Fundamental



Nos dias de tratamento espiritual realizados em nossa Casa, não trabalham apenas Entidades médicas, mas também aquelas ligadas à cura. Portanto, é de extrema importância que o médium  saiba diferenciar a origem e a característica predominante de cada uma das Entidades envolvidas, para que se tenha o real entendimento desse tipo de consulta, de sua intensidade e de seu verdadeiro alcance nos sentimentos, sensações e necessidades dos consulentes.

Falando primeiramente das Entidades: O médium tem de tentar entender a origem de cada Entidade, sua fonte de conhecimento e seus princípios de conduta e trabalho de energização, revitalização ou cura espiritual, para assim entender de que maneira isso irá atingir da forma mais eficiente os consulentes que à nossa Casa vem em busca de ajuda, auxílio, acalento e até mesmo a cura para seus males físicos e espirituais. 

Vale frisar que as Entidades ligadas à cura pelo tratamento espiritual, não são necessariamente Entidades médicas, mas sim também guias que já trazem com eles conhecimentos de quando encarnados, onde adquiriram e exerceram conhecimentos e experiências ligados à benzer e curar doenças, amenizar ou curar sintomas e efeitos de males comuns, tais como dores, febre, diarréia etc., isto é, nos cuidados e atenção à saúde. Cada um desses "tipos" de Entidades utilizaram de diferentes fontes de trabalho dentro de suas especialidades, como rezas, ervas, estudos, entre outros.

Há, porém, ainda na Linha de Cura, espíritos que quando encarnados utilizaram dos conhecimentos de Medicina e do corpo humano com intuito de maleficência e não de benevolênica. Esses também estudaram a Medicina e se formaram nessa profissão, porém utilizaram desses conhecimentos ora para interesses próprios, ora em condutas antagônicas à caridade e evolução do ser humano como espírito. Em outras palavras, esses espíritos foram contrários à visão médica de dar alento à vida e utilizaram de suas experiênicas para, por exemplo, provocar abortos, criar fórmulas que deterioram até de forma irreversível a saúde e provocam o envenenamento, a intoxicação, desenvolvem drogas que viciam a matéria e enfraquecem o espírito. Estes profissionais do mal acabam, ao desencarnarem, por pagar de maneira implacável todos os males cometidos em terra e, na forma de Exus, dotados de uma energia sombria ficam presos ao fosso das trevas do Umbral em penitência e no resgate dos sofrimentos que impuseram a seus semelhantes e a si próprio. São os Exus Médicos, que apesar dos prejuízos que causaram a humanidade, possuem o dom da medicina e da cura. Ao adentrar nas trevas do Umbral, o espírito só se livrará da penitência quando de forma sincera e verdadeiramente assumir seus erros, assimilar a lição que lhe está sendo passada, até que tenha a permissão de Oxalá para uma segunda chance, ou seja, o merecimento para uma nova oportunidade de cumprimento da missão que lhe foi atribuída e usando de seus conhecimentos, levar a cura e o bem estar aos necessitados.

Junto a estes estão também os curandeiros, benzedores e feiticeiros do mal que da mesma forma dotados da habilidade de atingir o físico e o espírito de indefesos, provocam a doença e o flagelo, contrariando a missão de, através de seus atributos de cura, suprir a carência da saúde e do desequilíbrio físico. Muitos destes após décadas de penitência e sofrimento em densas trevas do Umbral, se oferecem no apelo a misericórdia de Oxalá à prestar auxílio à humanidade na faculdade de seus dotes de cura e passam a atuar, mesmo como Exus, em pról do bem e da saúde, procurando redimir-se de suas falhas e erros, buscando de forma sincera reunir os créditos que os guiará pelo caminho da evolução espiritual.

O espírito-médico, curadores, benzedores e feiticeiros, então podem tanto desfrutar dessa nova oportunidade com um encarnado ou atuando no plano espiritual, assim como for permitido e determinado por Oxalá. Se lhe for concebida a permissão para atuação no plano espiritual, o espírito poderá mesmo na forma de um Exu, juntar-se no auxílio ou na atuação direta das correntes de trabalhos com a cura, em parceria com a Linha de Direita, mesmo agindo através da Linha de Esquerda, sendo orientado e supervisionado por outras Entidades médicas de Direita e por Exus-médicos, esses mais evoluídos e experientes o suficiente para terem recebido de Oxalá a missão de comandar ou chefiar uma falange de Exus-Médicos. Esse é o caso, por exemplo, do Exu Zé Pelintra.

CABOCLOS CURANDEIROS

Saindo um pouco da Linha Médica, dos espíritos que adquiriram conhecimentos através do estudo direto da medicina, do corpo humano e de suas doenças, temos Entidades que dotados da experiência e dotes adquiridos ao longo de muitas vidas na convivência próxima com o elemento natureza e seus recursos de sobrevivência e cura, deixados no mundo por Oxalá, lidaram e viveram o contato estreito com a cura e/ou com o acalento aos sintomas de males muitas vezes desconhecidos, trataram enfermos em estados graves, conviveram com diversos tipos de doenças e aflições, utilizando somente de meios "naturais" e da evocação através de seus rituais, à espíritos de maior luz e conhecimento, para trabalharem.

Alguns Caboclos (sejam eles da Linha de Xangô, Ogum ou Oxóssi), por exemplo, acumularam em suas encarnações conhecimentos sobre o uso de ervas no tratamento ou cura de doenças, ou mesmo com o intuito de amenizar alguns sintomas; tratam-se dos caboclos curandeiros. São espíritos que quando encarnados tiveram contato direto com a natureza e sob intuição espiritual souberam desfrutar do legado criado por Oxalá e ao Homem oferecido, o qual foi pelo ser humano nomeado como "Mãe Natureza". 

Da mata, da floresta, da Natureza, o Caboclo soube usufruir das folhas, sementes e frutos para cuidar, para robustecer a saúde e fortalecer o Homem para o dia-a-dia de trabalho, bem como para amenizar problemas de saúde ou até curar doenças dos membros de seu grupo, da sua e de outra comunidade ou mesmo tribo. Aprenderam então a usufruir de ervas e de fontes naturais para beneficiar os outros e se tornarem os Curandeiros do grupo. Daí vem os Caboclos Curandeiros. 

PRETOS-VELHOS BENZEDORES

De forma semelhante, alguns Pretos-Velhos utilizaram da reza para benzer pessoas doentes e através dessa benção amenizar dores e sofrimentos humanos (e até mesmo animais); são os Pretos-Velhos benzedores. No mais puro enaltecer da fé e da confiança na Força Maior que nosso mundo rege, esses espíritos, tanto quando encarnados, quanto agora no plano espiritual, conseguem emanar energia suficiente que possa, com a permissão de Oxalá, interferir na matéria lesada fortalecendo-a e recarregando o espírito do paciente com a luz branca de Oxalá.

Sem necessariamente ter conhecimentos sobre a anatomia e fisiologia humana, apenas com o uso da fé e de gestos simples, típicos de uma Entidade Preto-Velho, eles conseguem energizar e dar vigor ao paciente com aquilo que chamam de benção. Por vezes utiliza algum meio material para auxiliar a benção, como um galhinho de arruda ou mesmo a fumaça de seus cachimbos. São também fortes no combate ao mal, chegando a limpar e reverter males com a eficiência da Esquerda, bem como bloquear o corpo contra demandas, inveja, e outras tendências nocivas através de suas mandingas. São competentes e incansáveis protetores das crianças, dos velhos e incapazes. 

Importante frisar que nem todos os Pretos-Velhos possuem essa faculdade de Benzer em pró da cura, da saúde. A benção é uma das características dessas Entidades, porém nem sempre ela é voltada à esse fim, mas também, por exemplo, a um gesto de respeito, de cumprimento, de despedida, de relação familiar entre filhos/netos com os pais/avós, condutas essas herdadas e intensificadas durante o período de encarnação na época da escravidão e da vida na senzala. 

Assim como essas benções tinham que ser simples o suficiente para que não chamasse a atenção dos Senhores das fazendas e capatazes de Senzala, nem dos feitores, os até então escravos aprenderam, mesmo que devido a uma imposição hierárquica da época, a realizar suas rezas, orações e rituais religiosos com a maior simplicidade e discrição possível, sem com isso perder a intensidade do momento, muito pelo contrario trouxeram mais vibração e força a seus apelos, condição esta que lhes foram dada em muitos casos pela capacidade de suportar o sofrimento e a dor.

Os Preto-Velhos Bezedores são exemplo de fé inigualável voltada à caridade da cura.

ORIS

Os oris são espíritos com um conhecimento mais ligado à energização e cura pelas práticas da cultura oriental e estão mais ligados ao cuidado do paciente, antes e pós tratamentos, na convalescência, dispensando atenção integral, são os ditos "enfermeiros espirituais". 

Entidades de extrema concentração e dedicação à atenção do paciente, prestimosos colaboradores, são espíritos que quando encarnados tiveram contato com a manutenção dos cuidados do paciente, orientados por espíritos de um conhecimento maior, o qual, junto com ele, dedica-se à cura.

OMULU E OBALUAÊ

Há ainda, os já conhecidos Omulu e Obaluaê, os quais, ao contrário dos demais acima citados, são Orixás e não Entidades.

O Orixá Omulú, figura sincretizada como um ser sob palhas por ter uma aparência deformada por doenças, está mais voltado à cura espiritual do que física, ou seja, ao assistir ao paciente, volta-se ao equilíbrio emocional, às doenças da mente, de cunho psicológico. Volta-se mais àquilo que seria a enfermidade e fragilidade do espírito e, trabalhando através de uma aliança entre Direita e Esquerda, combate os males que possam afligir o espírito, que causariam um acúmulo de enerigas negativas sobre o espírito. Traz o equilíbrio à vida material, nas necessidades de subsistência, como dinheiro, trabalho e moradia, de forma a trazer tranqüilidade ao espírito que se voltará aos interesses do plano superior. É o orientador, o condutor e apaziguador dos espíritos desencarnados, a quem podemos recorrer no encaminhamento daqueles que fizeram a passagem.

O Orixá Obaluaê, por sua vez, sincretizado sempre na companhia de um cão, o qual se apresenta lambendo as feridas que têm sobre o corpo, causadas pela lepra (e, supostamente, aliviando a dor e o incômodo), dá assistência ao paciente com um intuito maior de cura dos males físicos. 

Não tanto quanto Omulu, também trabalha com a aliança Direita-Esquerda, porém livrando o encarnado dos males físicos, oriundos principalmente de desequilíbrios emocionais e espirituais. Age através de uma energização mais voltada à limpeza direta da matéria, isto é, dos distúrbios orgânicos, do que do espírito ou do equilíbrio emocional.

Por essas semelhanças e características ora coincidentes, ora paralelas, ambos os Orixás são vistos e reverenciados juntos, sendo que após o Saravar de Omulu, o cumprimentos deve ser "Salve a força de Omulu" e após o de Obaluaê, "Atotô Obaluaê".

Obs.: Vale frisar que nem todos os Caboclos são Curandeiros e nem todos os Pretos-Velhos são Benzedores; nem todos os Médiuns possuem Entidades Médicas, Caboclos Curandeiros, Preto-Velhos Benzedores ou Oris, porém todos possuem a capacidade de energização e revitalização física e espiritual desde que devidamente concentrados e em comunhão com os mentores do plano espiritual.

RESPEITO, CONCENTRAÇÃO E SILÊNCIO

Não há nada que assuste, alerte ou mesmo ameace o mais valente ser humano, tanto quanto alguma doença, algum sintoma forte ou mesmo o risco da desencarnação. Qualquer espírito encarnado altera sua conduta e seus pensamentos do dia-a-dia frente a um mal que coloque em risco sua integridade física.

Por mais espiritualizado que possa ser o ser humano, frente a um mal físico que lhe aflija a matéria, mesmo que temporariamente, algo de diferente passa em seus pensamentos: "será um castigo?", "será um aviso?", "será o início do adeus?"... Evidentemente que não se fala aqui de um quadro gripal, de uma rinite alérgica, de uma alergia a algum produto químico, enfim, trata-se de doenças e afecções orgânicas mais danosas e intensas.

A Espiritualidade Umbandista se baseia no conceito de evolução através de aprendizados, sendo as doenças mais danosas e brutas à matéria um sinal de lição a ser passada, não somente pelo doente, mas também por outros que em vida o acompanham (marido/esposa, filhos, parentes, amigos próximos etc.). Mesmo doenças ditas "leves" têm o seu valor de aprendizado e uma relação com lições ao doente, mas não tão intensas quanto um câncer, uma paralisia, uma infertilidade, um vício em drogas, retardos mentais etc.

Nem todos os casos podem ser resolvidos por completo, um retardo mental, por exemplo, jamais será restaurado a um estilo de vida normal, até porque essa condição em que veio o encarnado tem o seu motivo, tem o seu valor de resgate e aprendizado, visando a evolução do espírito.

Porém, se por Oxalá for permitido, mesmo os casos gravíssimos ou ditos "terminais" por alguns médicos profissionais, podem ser revertidos, talvez não curados, mas amenizados o suficiente para que o espírito encarnado tenha uma nova chance de entender a mensagem, assumir e corrigir erros, aprender, cumprir missões e viver. 

Por esse poder e consequente responsabilidade em lidar com aquilo que recebe um imenso valor pelos encarnados, a saúde, as Entidades e Orixás ligados à cura merecem o mais sincero e venerador respeito que possa existir, principalmente em relação às Entidades Médicas.

Por tratar diretamente, e com maior conhecimento, tanto a matéria quanto o espírito, as Entidades Médicas ao se firmarem no plano espiritual e assumirem a missão de curar pelo plano superior, e não como encarnado, assumem também um posicionamento muito próximo de Oxalá, uma luz branca de suprema intensidade, sendo inferior apenas à da Força Vital Maior que nos rege. As Entidades Médicas tratam diretamente dos dois pontos que merecem maior valor pelo encarnado: o espírito e a saúde física. Sem um equilíbrio da matéria, o espírito deixa de ter seus pilares fortes e passa a enfraquecer-se, com um crescente risco de desabar, pois ele, como um encarnado, precisa da matéria para cumprir sua missão. E por outro lado para que uma matéria seja sadia e equilibrada no aspecto físico e emocional, necessita de um espírito maduro, firme e equilibrado, conscientes dos cuidados com a matéria que lhe foi cedida por Oxalá para seu aprimoramento na Terra enquanto encarnado. Sendo assim, ao tratar ambos os pontos citados, as Entidades precisam de uma concentração extrema para trabalhar, pois estarão agindo diretamente através de uma energização muito pura e intensa, que requer muita concentração por parte da Entidade. 

Para tal o ambiente deve ser o mais silencioso possível, não apenas para um melhor trabalho das Entidades Médicas e de Cura, mas também das demais Entidades e Orixás envolvidos na Gira. 

Esse silêncio é fundamental para que o consulente também se concentre ao receber o passe, a energização ou algum processo mais intenso. Aliás, não apenas no momento do atendimento o consulente deve manter-se concentrado e em silêncio, mas sim durante todo momento do auxilio,  para que sinta e receba com mais intensidade toda a energia que está fluindo sobre o templo.

De maneira semelhante, todos os filhos de Santo devem mater-se em harmonia com o trabalho de cura, ou seja, focado mais do que nunca no objetivo da caridade, no auxílio ao próximo e no silêncio e concentração dignos de uma Gira de Cura.

Trata-se de um trabalho diferente em que fluirá uma energia diferente, mais pura, vinda de uma proximidade maior de Oxalá. Aproveite, desfrute desse momento, mesmo que não tenha nenhuma queixa física, nenhum dor, nenhum incômodo. Sinta a energia das Linhas de Cura, assimile o poder e doação à caridade, vibre junto com Oxalá nesse momento.

Reverencie e respeite cada Entidade e Orixá que lá estiverem presentes, bem como o respeito ao Irmão de Fé em sua concentração e emanação dos fluidos, no auxílio à Entidade, mantenha-se concentrado durante a Gira e, em silêncio e oração, entre em harmonia com a energia da Casa e que assim seja.

A mediunidade de cura é a capacidade possuída por certos médiuns de curarem moléstias por si mesmos, provocando reações reparadoras de tecidos e órgãos do corpo humano, inclusive as oriundas de influenciação espiritual. Assim como existem médiuns que emitem fluidos próprios para a produção de efeitos físicos concretos (ectoplasmia), temos igualmente os médiuns que emitem fluidos que operam todas as reparações acima referidas.

Na essência, o fluido é sempre o mesmo, uma substância cósmica fundamental.

Mas suas propriedades e efeitos variam imensamente, conforme a natureza da fonte geradora imediata, da vibração específica e, em muitos casos (como este de cura, por exemplo), do sentimento que precedeu o ato da emissão.

A diferença entre os dois fenômenos é que no primeiro caso (ectoplasmia), o fluido é pesado, denso, próprio para elaboração de formas ou produção de efeitos objetivos por condensação, ao passo que no segundo (curas), ele é sutilizado, radiante, próprio para alterar condições vibratórias já existentes. 

Além do magnetismo próprio, o médium curador goza da aptidão de captar esses fluidos leves e benignos nas fontes energéticas da natureza, irradiando-os em seguida sobre o doente, revigorando órgãos, normalizando funções, destruindo placas e quistos fluídicos produzidos tanto por auto-obsessão como por influenciação direta.

O médium se coloca em contato com essas fontes ao orar e se concentrar, animado pelo desejo de fazer uma caridade evangélica.

Como a lei do amor é a que preside todos os atos da vida espiritual superior, ele se coloca em condições de vibrar em consonância com todas as atividades universais da criação, encadeando forças de alto poder construtivo que vertem sobre ele e se transferem ao doente. Por sua vez, este se colocou na mesma sintonia vibratória por meio da fé ou da esperança.

Os fluidos radiantes interpenetram o corpo físico, atingem o campo da vida celular, bombardeiam os átomos, elevam-lhes a vibracão íntima e injetam nas células uma vitalidade mais intensa. Em conseqüência, acelera as trocas (assimilação, eliminação), resultando em uma alteração benéfica que repara lesões ou equilibra funções no corpo físico.

Nas operações cirúrgicas feitas diretamente no corpo físico, os espíritos operadores incorporam no próprio médium que dispõe desta faculdade. Ele, como autômato, opera o paciente com os mesmos instrumentos da cirurgia terrena, porém sem anestesia e dispensando qualquer precaução de assepsia. Em certos casos, embora raros, o espírito incorporado logra o mesmo resultado cirúrgico utilizando objetos de uso doméstico (facas, tesouras, garfos ou estiletes comuns) como instrumentos operatórios, igualmente sem quaisquer cuidados anti-sépticos.

O cirurgião invisível incorporado no médium corta a carne do paciente, extirpa excrescências mórbidas, drena tumores, desata atrofias, desimpede a circulação obstruída, reduz estenoses ou elimina órgãos irrecuperáveis.

Semelhantes intervenções, além de seu absoluto êxito, são realizadas em um espaço de tempo exíguo, muito acima da capacidade do mais abalizado cirurgião do mundo físico. Em tais casos, os médicos desencarnados fazem seus diagnósticos rapidamente, com absoluta exatidão e sem necessidade de chapas radiográficas, eletrocardiogramas, hemogramas, encefalogramas ou quaisquer outras pesquisas de laboratório.

Nessas operações mediúnicas processadas diretamente na carne, os pacientes operados tanto podem apresentar cicatrizes ou estigmas operatórios como ficarem livres de quaisquer sinais cirúrgicos. Em seguida à operação, eles se erguem lépidos e sem qualquer embaraço ou dor, manifestando-se surpreendidos por seu alívio inesperado e a eliminação súbita de seus males.

Quando opera incorporado no médium, o espírito sempre é auxiliado por companheiros experimentados na mesma tarefa, que cooperam e ajudam no controle da intervenção cirúrgica, no diagnóstico seguro e rápido e no exame antecipado das anomalias dos enfermos a ser operados.

Entidades experimentadas na ciência química transcendental preparam os fluidos anestesiantes e cicatrizantes, transferindo-os depois do mundo oculto para o cenário físico através da materialização na forma líquida ou gasosa, conforme seja necessário. 

Cirurgias a Distância   

Embora o êxito das operações mediúnicas dependa especialmente do ectoplasma a ser fornecido por um médium de efeitos físicos e controlado pelos espíritos de médicos desencarnados, há circunstâncias em que, devido ao teor sadio dos próprios fluidos do enfermo, as operações produzem resultados miraculosos no corpo físico, apesar de processadas somente no perispírito.

O processo de "refluidificação", com o aproveitamento dos fluidos do próprio doente, lembra algo do recurso de cura adotado na hemoterapia praticada pela medicina terrena, na qual o médico incentiva o energismo da pessoa debilitada extraindo-lhe algum sangue e, em seguida, injetando-o novamente nela, em um processo que acelera a dinâmica do sistema circulatório.

No entanto, mesmo que se tratem de operações mediúnicas feitas diretamente na carne do paciente ou mediante fluidos irradiados a distância pelas pessoas de magnetismo terapêutico, o sucesso operatório exige sempre a interferência de espíritos desencarnados, técnicos e operadores, que submetem os fluidos irradiados pelos "vivos" a um avançado processo de química transcendental nos laboratórios do lado espiritual.

E quais são as diferenças entre as cirurgias realizadas com a presença do paciente e as realizadas a distância? No primeiro caso, os técnicos desencarnados utilizam o ectoplasma do médium de efeitos físicos e também os fluidos nervosos emitidos pelas pessoas presentes. Esta aglutinação polarizada sobre o enfermo presente possibilita resultados mais eficientes e imediatos.

No segundo caso, os espíritos operadores procuram reunir e projetar sobre o doente os fluidos magnéticos obtidos pelas pessoas que se encontram reunidas a distância, no centro espírita. Porém, como se tratam de fluidos bem mais fracos do que os fornecidos pelo médium de fenômenos físicos, eles são submetidos a um tratamento químico especial pelos operadores invisíveis, a fim de se obterem resultados positivos.

Mesmo assim, os fluidos transmitidos a distância servem apenas para as intervenções de pouco vulto, pois, sendo fluidos heterogêneos, exigem a "purificação" à qual nos referimos.

Existem alguns fatores que impedem as cirurgias a distância de serem tão eficazes e seguras como as intervenções diretas. Para muitos desses voluntários doadores de fluidos, faltam a vontade disciplinada e a vibração emotiva fervorosa, que potencializam as energias espirituais. Além disso, alguns deles não gozam de boa saúde, fumam em demasia, ingerem bebidas alcoólicas em excesso ou abusam de alimentação carnívora. Aliás, nos dias destinados a esses trabalhos espirituais, os médiuns deveriam se submeter a uma alimentação sóbria, já que, depois de uma refeição por vezes indigesta, o indivíduo não tem disposição para tomar parte em uma tarefa que exige concentração mental segura.

Dificuldades para os Espíritos

Durante o tratamento fluídico operado a distância, a cura depende muito das condições psíquicas em que os doentes forem encontrados durante a recepção dos fluidos. Os espíritos terapeutas enfrentam sérias dificuldades no serviço de socorro aos pacientes cujos nomes estão inscritos nas listas dos centros espíritas, pois além das dificuldades técnicas resultantes de certo desequilíbrio mental do ambiente onde eles atuam, outros empecilhos os aguardam, em virtude do estado psíquico dos próprios doentes.

Às vezes, o enfermo tem a mente saturada de fluidos sombrios, em face de conversas maledicentes, intrigas, calúnias e fofocas. Em outros casos, lá está ele em excitação nervosa por causa de alguma violenta discussão política ou desportiva, bem como é encontrado envolto na fumarada intoxicante do cigarro ou na bebericagem de um alcoólatra. Outras vezes, os fluidos irradiados das sessões espíritas penetram nos lares enfermos, mas encontram o ambiente carregado de fluidos agressivos, provenientes de discussões ocorridas entre seus familiares. É evidente que os desencarnados têm pouco êxito em sua tarefa abnegada de socorrerem os enfermos quando estes vibram recalques de ódio, vingança, luxúria, cobiça ou quaisquer outros sentimentos negativos.

Cirurgias durante o Sono

As operações cirúrgicas realizadas no perispírito durante o sono só atingem a causa mórbida no tecido etérico deste, porém, depois de algum tempo, começam a desaparecer seus efeitos mórbidos na carne, pelo mesmo fenômeno de repercussão vibratória. Neste caso, como os enfermos operados ignoram o que lhes aconteceu durante o sono ou mesmo em momento de vigília e repouso, duvidam quanto a essa possibilidade.

Uma vez que esses doentes, tendo sido operados no perispírito, não comprovam de imediato qualquer alteração benéfica em seu corpo físico, geralmente supõem terem sido vítimas de uma fraude ou um completo fracasso quanto à intervenção feita. Acontece que a transferência reflexa das reações produzidas por essas operações se processa muito lentamente, levando semanas ou até meses para manifestarem seus efeitos benéficos no organismo. Além disso, há casos em que o enfermo recebe assistência de seus guias espirituais devido à circunstância de emergência, que não altera o determinismo de seu resgate cármico.

Toda cura se dá pela ação fluídica, já que o espírito age através dos fluidos.

Tanto o perispírito como o corpo físico são de natureza fluídica, embora em diferentes estados, havendo relação entre eles. O agente da cura pode ser encarnado ou desencarnado e nela podem ser utilizados ou não processos como passes, água fluidificada e outros, além da intervenção no perispírito ou no corpo. Na cura por efeitos físicos, a alteração orgânica no corpo físico é imediatamente visível ou passível de constatação pelos sentidos ou aparelhamentos materiais.

Na ação fluídica sobre o perispírito, a cura será avaliada depois, pelos efeitos posteriores no corpo físico. Agindo através dos centros anímicos, órgãos de ligação com o perispírito, atinge-se este, que também se beneficia ao se purificar pela aceleração vibratória, tornando-se, assim, incompatível com as de mais baixo padrão.

É desta forma que se operam as curas de perturbações espirituais, na parte que se refere ao perturbado propriamente dito.

Sabemos que a maior parte das moléstias de fundo grave e permanente não podem ser curadas porque representam resgates cármicos em desenvolvimento, salvo quando há permissão do Alto para curá-las. Entretanto, há benefícios para o doente em todos os casos, porque se conseguirá, no mínimo, uma atenuação do sofrimento.

A Cura na Mão de todos

A faculdade de curar pela influência fluídica é muito comum e pode se desenvolver por exercício. 

Todos nós, estando saudáveis e equilibrados, podemos beneficiar os doentes com passes, irradiações, água fluidificada etc.

Aprendendo e exercitando, desenvolvemos nosso potencial de ação sobre os fluidos.

O poder curativo está na razão direta da pureza dos fluidos produzidos, como qualidades morais ou pureza de intenções, da energia da vontade, quando o desejo ardente de ajudar provoca maior força de penetração, e da ação do pensamento, dirigindo os fluidos em sua aplicação.

A mediunidade de cura, porém, é bem mais rara, espontânea e se caracteriza pela energia e instantaneidade da ação. O médium de cura age pelo simples contato, pela imposição das mãos, pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o uso de qualquer medicamento.

No evangelho, existem numerosos relatos em que Jesus ou seus seguidores curam por ação fluídica, alguns deles examinados por Allan Kardec no livro A Gênese, capítulo XV.

É lícito buscar a cura, mas não se pode exigi-la, pois ela dependerá da atração e fixação dos fluidos curadores por parte daqueles que devem recebê-los. A cura se processa conforme nossa fé, merecimento ou necessidade. Quando uma pessoa tem merecimento, sua existência precisa continuar ou as tarefas a seu cargo exigem boa saúde, a cura poderá ocorrer em qualquer tempo e lugar, até mesmo sem intermediários (aparentemente, porque ajuda espiritual sempre haverá). No entanto, às vezes, o bem do doente está em continuar sofrendo aquela dor ou limitação, que o reajusta e equilibra espiritualmente, o que nos faz pensar que nossa prece não foi ouvida.

Para tanto, vejamos o que diz Emmanuel no livro Seara dos Médiuns, no capítulo "Oração e Cura": "Lembremo-nos de que lesões e chagas, frustrações e defeitos em nossa forma externa são remédios da alma que nós mesmos pedimos à farmácia de Deus. A cura só se dará em caráter dura douro se corrigirmos nossas atuais condições materiais e espirituais. A verdadeira saúde e equilíbrio vêm da paz que em espírito soubermos manter onde, quando, como e com quem estivermos. Empenhemo-nos em curar males físicos, se possível, mas lembremos que o Espiritismo cura sobretudo as moléstias morais".

De uma maneira primorosa, Allan Kardec nos situa sobre o assunto: "A cura se opera mediante a substituição de uma molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo está, pois, na razão direta da pureza da substância inoculada, mas depende também da energia da vontade, que, quanto maior for, mais abundante emissão fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido. Depende ainda das intenções daquele que deseje realizar a cura, seja homem ou espírito".

Daí então se depreende que são quatro as condições fundamentais das quais depende o êxito da cura: o poder curativo do fluido magnético animalizado do próprio médium, a vontade do médium na doação de sua força, a influenciação dos espíritos para dirigir e aumentar a força do homem e as intenções, méritos e fé daquele que deseja se curar.


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