QUIMBANDA

Sagrado e o Profano



Em sua origem africana, Exu é o interlocutor entre os homens e os deuses, conhecedor da linguagem dos dois mundos, vai ao sagrado levar o chamado dos seus filhos que se encontram no mundo profano. Se os homens necessitam do auxílio da espiritualidade, Exu é o mensageiro encarregado da comunicação entre a África sagrada e o Brasil profano. 

A partir da diáspora africana para as Américas Exu assumiu diversas facetas e formas de culto. 

No Brasil, país de tamanho continental, as forma de tratá-lo e cultuá-lo se transformam em cada região: Umbanda, Candomblé, Batuque, Tambor de Mina, Xangô, Xambá, Quimbanda... Cada uma dessas expressões religiosas tem sua maneira característica de louvor a Exu, mas seu papel enquanto princípio do movimento é a constante que une a todos numa só fé. 

Entretanto, ainda que em todas Exu seja o primeiro a ser louvado, na grande maioria dessas religiões Exu está sempre relacionado e, por que não, subjugado à hierarquia e ao comando de uma força "superior", como Caboclos ou Orixás. 

Na Quimbanda, porém, Exu assume lugar de destaque e torna-se independente - assumindo seu Reinado na Magia e sua posição de liderança e manifestando-se de maneira singular. 

A Quimbanda é, portanto, uma religião afro-brasileira independente de quaisquer outras, que surge no Rio Grande do Sul a partir de meados dos anos 1960. Antes desse período outras tradições e religiões já prestavam culto a Exu e Povo de Rua, porém a Quimbanda se firma como religião ao cultuá-los de forma independente, estabelecendo símbolos e ritos iniciáticos, bem como dogmas que a organizam social e religiosamente, com grande influência dos ritos africanistas do Batuque afro-gaúcho. 

Além do culto a Exu e sua contra-parte feminina Pombagira, Malandros, Povo Cigano, Caboclos e Pretos Velhos Quimbandeiros e todo o "Povo de Rua", o principal ponto que diferencia a Quimbanda das demais religiões de matriz africana é a pratica do culto direto às almas de pessoas falecidas e entes queridos - o Culto de Egun - e, com isso, à ancestralidade de seus iniciados, da comunidade em torno do Templo / Terreiro e, porque não, de todo o povo negro do Brasil e Américas. 

Os espíritos cultuados na Quimbanda são ancestrais que tiveram ligação com o culto, em sua maioria pertencente a grupos familiares do século XIX e início do século XX, tendo, muitas vezes, travado relações de sangue com as culturas nativas como os brancos europeus que se relacionavam com negras ou índias. Estes passaram, então, a serem chamados de Exu - um equívoco lingüístico certamente, visto que Exu é a divindade Nagô. E foi por causa do seu arquétipo que acabou sendo relacionado às nossas entidades, "emprestado", por assim dizer, o seu nome, pela característica de ser irreverente e debochado, que desafiava a ordem e os dogmas da igreja e da sociedade cristã da época. 

A verdadeira denominação que deveríamos utilizar para os espíritos cultuados seria, justamente, "Kimbandas", pois assim eram conhecidos os chefes-feiticeiros das tribos tanto na África Bantu quando no Brasil escravocrata. Estes se fizeram notar pelos trabalhos de magia, transes e pela capacidade de curar através de elementos naturais, que em suas mão adquiriam caráter magístico, desde os primórdios dos calundus rurais até a evolução de suas práticas nos meios urbanos. 

A ancestralidade é a chave para compreendermos o universo religioso e popular que se desenvolveu no Brasil e é preciso voltar ao passado e compreender a miscigenação das raças e culturas que formaram nossa sociedade. Observando por esse ângulo fica mais fácil perceber que as nossas entidades não estão necessariamente vinculadas à dinâmicas de evolução kármica como no Espiritismo, mas sim a algo muito mais direto: a relação ancestral. 

A Quimbanda tem bases diferentes do espiritismo umbandista ou kardecista; na teologia quimbandeira não existe a evolução dos espíritos no sentido de passagens de graus ou de dimensões e os Exus são tidos como ancestrais tanto por terem vivido antes de nós quanto por serem, realmente, ligados ou à ascendência familiar do médium ou à ascendência do culto/casa em que o mesmo é iniciado. 

Em termos religiosos, a hierarquia dos espíritos da Quimbanda se divide primariamente em sete reinos, sendo sua organização uma remanescença das organizações dos reinos, clãs e territórios africanos. Cada Reino, então, se subdivide em nove povos de Exús, sendo que cada reino e cada povo é comandado por um Exú-Chefe ou Exu-Rei.

1 - REINO DAS ENCRUZILHAS - GOVERNANTES: Exu Rei e Pombagira Rainha das 7 Encruzilhadas Ponto de Energia Esquinas formadas pelo cruzamento de dois ou mais caminhos. Atuação Espiritual Todas as formas de abertura e início. Rompem a estagnação e iniciam o movimento daquilo que se deseja, trazendo o avanço e o progresso. Cores Vermelho e preto. Símbolo Dois tridentes cruzados em forma de «X». 

POVOS DAS ENCRUZILHADAS - GOVERNANTES: Encruzilhada da Rua - Exu Tranca-Ruas,  Encruzilhada da Lira - Exu 7 Encruzilhadas, Encruzilhada da Lomba - Exu das Almas, Encruzilhada dos Trilhos - Exu Marabô - Encruzilhada da Mata - Exu Tiriri,  Encruzilhada da Calunga - Exu Veludo, Encruzilhada da Praça - Exu Morcego, Encruzilhada do Espaço - Exu 7 Gargalhadas - Encruzilhada da Praia - Exu Mirim

2 - REINO DOS CRUZEIROS - GOVERNANTES: Exu Rei e Pombagira Rainha dos 7 Cruzeiros, Ponto de Energia Em todos os locais de passagem e cruzamento, portas, portões, na rua que segue à Encruzilhada e também na Cruz Mestra dos cemitérios e igrejas - o Cruzeiro das Almas. Atuação Espiritual Atuam sobre as passagens e pontos de mudanças e trocas, sejam elas físicas, emocionais, mentais, materiais ou simbólicas. Cores Vermelho, preto e prateado. Símbolo Dois tridentes de duas pontas cruzados em forma de cruz.

POVOS DO CRUZEIROS - GOVERNANTES: Cruzeiro da Rua - Exu Tranca Tudo, Cruzeiro da Praça - Exu Kirombó, Cruzeiro da Lira - Exu 7 Cruzeiros, Cruzeiro da Mata - Exu Mangueira, Cruzeiro da Calunga - Exu Kaminaloá, Cruzeiro das Almas - Exu 7 Cruzes, Cruzeiro do Espaço - Exu 7 Portas, Cruzeiro da Praia - Exu Meia Noite, Cruzeiro do Mar - Exu Calunga.

3 - REINO DAS MATAS - GOVERNANTES: Exu Rei e Pombagira Rainha das Matas, Ponto de Energia Locais de vegetação, campos, montes, colinas e verdearias. Atuação Espiritual Atuam sobre o poder das plantas, terras e sementes e, portanto, sobre a cura das enfermidades e a utilização mágica de todos os elementos vegetais. Carregam em si a sabedoria do tempo, sendo invocados também para o aconselhamento e o apaziguamento de situações. Cores Vermelho, preto e verde / Vermelho, preto e marrom. Símbolo Dois tridentes cruzados, uma tocha e a cabeça de um lobo.

POVOS DAS MATAS - GOVERNANTES: Povo das Árvores - Exu Quebra Galho Povo dos Parques - Exu das Sombras - Exu Sete Luas - Povo das Mata da Praia - Exu das Matas Povo das Campinas - Exu das Campinas Povo das Serranias - Exu da Serra Negra Povo das Minas - Exu Sete Pedras -Exu das Sete Chaves - Povo das Cobras - Exu Sete Cobras Povo das Flores - Exu do Cheiro Povo das Sementeiras - Exu Arranca-Toco.

4 - REINO DOS CEMITÉRIOS - REINO DA CALUNGA PEQUENA - GOVERNANTES: Exu Rei e Pombagira Rainha da Calunga Ponto de Energia Do portão até os fundos dos cemitérios, sobre as catacumbas, criptas, capelas e gavetas mortuárias. Atuação Espiritual Atuam sobre o tempo cronológico, sobre as memórias, as lembranças, os medos, as angústias e sobre o outro lado da vida. Regem a morte física e a morte simbólica e são invocadas para situações de fechamentos de ciclos. Cores Preto e, eventualmente, prata. Símbolo Uma caveira ou sepultura sobre dois tridentes cruzados.

POVOS DOS CEMITÉRIOS - GOVERNANTES: Portas da Calunga - Exu Porteira, Tumbas - Exu 7 Tumbas, Catacumbas - Exu 7 Catacumbas, Fornos - Exu da Brasa, Caveiras - Exu Caveira, Mata da Calunga - Exu Calunga, Lomba da Calunga - Exu Corcunda, Covas - Exu 7 Covas, Mirongas e Trevas - Exu Capa Preta (Exu Mironga)

5 - REINO DAS ALMAS - REINO DA LOMBA - GOVERNANTES: Exu Rei das Almas (Exu Omolu) e Pombagira Rainha das Almas, Ponto de Energia Todos os lugares altos, nos montes e colinas onde antigamente se sepultavam os falecidos, nos hospitais, capelas funerárias, igrejas e necrotérios. Atuação Espiritual Atuam sobre as emoções e os sentimentos humanos de qualquer natureza e sobre o transporte das coisas de um ponto a outro, especialmente das almas até seu local de descanso. Cores Vermelho, preto e branco e Vermelho, preto e roxo. Símbolo Um pequeno monte com uma cruz no topo.

POVOS DAS ALMAS - GOVERNANTES: Almas da Lomba - Exu 7 Lombas, Almas do Cativeiro - Exu Pemba, Almas do Velório - Exu Marabá, Almas dos Hospitais - Exu Curadô, Almas das Igrejas - Exu 9 Luzes, Almas do Mato - Exu 7 Montanhas, Almas da Calunga - Exu Tatá Caveira, Almas da Praia - Exu Giramundo, Almas do Oriente - Exu 7 Poeiras.

6 - REINO DAS LIRAS - GOVERNANTES: Exu Rei das 7 Liras e Pombagira Rainha das Marias (Rainha do Candomblé), Ponto de Energia Locais de boemia, bares, cabarés, casas de jogos, comércios, praças e locais com grande circulação de pessoas. Atuação Espiritual Atuam sobre as artes, a inspiração e a criatividade, a música e as danças, a riqueza material e o comércio e, especialmente, sobre os prazeres da carne e toda forma de sexualidade. Cores Vermelho, preto e dourado Símbolo Uma lira ou harpa sobre dois tridentes cruzados em »X».

POVOS DA LIRA - GOVERNANTES: Povo dos Infernos - Exu dos Infernos, Povo dos Cabarés - Exu do Cabaré, Povo da Lira - Exu 7 Liras, Povo dos Ciganos - Exu Cigano, Povo dos Malandros - Exu Zé Pelintra, Povo do Oriente - Exu Pagão (Exu do Oriente), Povo do Lixo - Exu Ganga (Exu do Lixo) Povo do Luar - Exu Malé, Povo dos Comércio - Exu Chama Dinheiro.

7 - REINO DAS PRAIAS - REINO DA CALUNGA GRANDE - GOVERNANTES: Exu Rei e Pombagira Rainha da Praia, Ponto de Energia nas areias e dunas que margeiam mares e rios, nas pedreiras e minas d'água e em todos os lugares próximos à água doce ou salgada. Atuação Espiritual Atuam sobre as viagens, sobre os movimentos de intercâmbio e de troca, sobre a imensidão e o desconhecido e sobre os ciclos da vida e seus altos e baixos. Cores Vermelho, preto e azul. Símbolo Uma ancora sobre dois tridentes cruzados, três ondas.

POVOS DAS PRAIAS - GOVERNANTES: Povo dos Rios - Exu dos Rios, Povo das Cachoeiras - Exu das Cachoeiras, Povo dos Pedreiras - Exu da Pedra Preta, Povo dos Marinheiros - Exu Marinheiro Povo do Lodo - Exu do Lodo, Povo dos Mares - Exu Maré, Povo dos Baianos - Exu Baiano, Povo dos Ventos - Exu dos Ventos, Povo das Ilhas - Exu do Coco.



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