PIPOCA NA UMBANDA

Rituais - Banhos & Oferendas



Na Umbanda a pipoca é usada nas oferendas para os Orixás Obaluayê, usando só as pipocas brancas, e Omulu, usando também as pipocas queimadas (pretas). Os banhos de pipoca são rituais importantes e poderosíssimos para os médiuns. Em banhos de cura e harmonização as pipocas são feitas sem óleo e sem sal; nos banhos de descarrego o milho é estourado com azeite de dendê (nesse caso o banho deve ser feito sempre em campo aberto); nos banhos de fixação de força o milho deverá ser estourado na areia da praia. A pipoca também é elemento vegetal transformador e transmutador, portanto é muito usada nos rituais de cura, além disso os Guias fazem verdadeiras mandingas com apenas um punhado de pipoca nas mãos, favorecendo o corpo astral dos consulentes. 

Para falar um pouco mais sobre este elemento tão poderoso da nossa Umbanda quero compartilhar com vocês um texto muito bonito e muito expressivo. Espero que gostem e que consigam absorver todo o significado das palavras e todas as mensagens nas entrelinhas. 

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível. A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, então, da lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé... A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido. Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos. Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado. Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa - voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! - e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante. Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro. "Morre e transforma-te!" - dizia Goethe. Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. 

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem. Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior. Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de Jesus: 

"Quem preservar a sua vida perdê-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. 

Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira..."Rubem Alves" Que todos nós possamos passar pelo fogo da vida para, enfim, nos transformar em pipocas!

Muitos perguntam por que a pipoca é oferecida a Obaluaiê/Omulu nos terreiros de Umbanda, já que os africanos não tinham acesso a esse alimento. Vou tentar em poucas palavras explicar o porquê e as razões que temos para oferendar esse orixá dessa forma.

A Umbanda adotou a pipoca como oferenda a ele pelas características que ela apresenta, ou seja, é dura, grosseira e transforma-se quase como num passe de mágica em deliciosa flor comestível.

Lembremos que Obaluaiê/Omulu é um orixá duro e implacável, com certa tendência ao rancor e ressentimento vingativo. No entanto, conforme contam suas lendas, que um dia descobriu-se como o médico dos pobres, aquele que tinha o dom de salvar vidas o que aceitou como missão e destino.

Essa é a leitura que os umbandistas fazem do assunto. Percebam que todas as fábulas que se contam a respeito, sejam de quais nações forem, o que, aliás, para a Umbanda não é levado em consideração, mostram exatamente a transformação pela qual o orixá passou e essas passagens colocam a pipoca como o símbolo dessa mudança.

Lembro ainda que, apesar de sempre levantarem essa dúvida quanto à oferenda, esquecem-se que pelos mesmos motivos já citados a pipoca é importante em vários rituais umbandistas e está presente em horas boas e ruins dentro de nossos terreiros.

Em festas de Cosme e Damião está lá, colorida e doce. Nas homenagens aos pretos-velhos, quem está lá? Ela novamente, desta vez ligeiramente salgada. Em descarregos pesados em que precisamos afastar negatividades presentes em uma pessoa ou mesmo em trabalhos de cura, nem preciso repetir. Ela outra vez, agora sem sabor algum.

Em suma, a pipoca se tornou ingrediente indispensável em nossa religião por seus atributos e não conheço nenhum dirigente que dispense seu uso em diversas outras situações que, para não ser cansativo, deixei de citar.

Banho de Pipoca de Obaluaiê para Saúde e Descarrego

Em rituais afros, a pipoca é um item mágico que absorve energias negativas, muito utilizada para rituais de saúde e descarrego.

Este ingrediente mágico poderoso pertence a Obaluayê, Orixá da saúde e da evolução. da cura do corpo e do espírito.

Diz a lenda que Obaluayê, filho de Nanã, nasceu com mazelas na pele, tendo sido abandonado por sua mãe e criado por Iemanjá.

Em uma festa dos Orixás, Obaluaiê foi com uma roupa de palhas, para esconder as feridas que escondia na pele.

Mas Iansã, querendo saber e ver quem era esse homem, com sua ventania, afastou todas as palhas da roupa de Obaluaiê, tendo suas feridas se transformado em pipocas claras.

Obaluaiê se mostrou um homem muito bonito e dançou a festa toda com Iansã.

A pipoca traz purificação, traz a limpeza, traz a cura espiritual, traz o axé de Obaluaiê, para por fim a todas as energias negativas e ajudar na cura de doenças do corpo.

Materiais:

- 2 litros de água;

- meio copo de milho de pipoca;

- azeite de oliva.

Como fazer:

Estoure as pipocas no azeite, escolhendo as pipocas mais brancas. Após, ferve a água. E quando ferver, desliga o fogo e coloca as pipocas na água. Deixe o banho esfriar. Após seu banho de higiene. despeje dos ombros para baixo no corpo o banho, pedindo a Obaluaiê por saúde e para afastar todas as energias negativas. Recolha as pipocas, e coloque na terra de um jardim. Não coloque sal na pipoca. Não utilize pipoca de microondas.

Por que o Deburu (Pipoca) é oferecido para Obalúwàiyé?

O Deburu não foi escolhido por acaso para ser alimento desse Orixá que tem o poder de causar a doença e a cura física, espiritual e mental.

A pipoca possui um nível muito alto de polifenóis (substâncias que agem como antioxidantes naturais).

Possui em sua composição apenas 4% de água, diferente de frutas e verduras (também presentes em ebós e oferendas) que possuem 90% de água. Esse fato contribui muito para a remoção e absorção de células mortas.

Precisamos nos aliviar das pressões internas para não estourarmos... Deixemos isso para a pipoca!!!

Ó àfomó ó fá ojú rè mò fá, aráayé njó jó
Aráayé a njó onílé, aráayé njó jó.

Ele contagia, ele faz a limpeza.

Seu olhar sabe limpar.

A humanidade dança para o Senhor da Terra.

A pipoca na Umbanda, porque ela é usada nos trabalhos?

A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. 

Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.

Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. E você, o que é? Uma pipoca estourada ou um piruá?

Poderosa oferenda a Omulú-Obaluaê para a saúde

Você vai precisar de:

  • Um cesto médio de palha ou vime;
  • Milho de pipoca em grãos (use a medida de um copo e meio de requeijão);
  • Azeite de Oliva;
  • Uma pipoqueira ou outra panela que sirva para estourar a pipoca;
  • 1 Coco maduro, fatiado em lâminas;
  • Mel puro;
  • 1 vela branca de 7 dias.

Passo-a-passo:

  • Estoure a pipoca (em duas etapas, ou não caberá na panela, usando uma colher de azeite em cada etapa);
  • Coloque a pipoca no cesto, deixando esfriar;
  • Retire o coco da casca e o fatie em lâminas;
  • Enfeite as pipocas com as lâminas de coco;
  • Ao final, regue as pipocas com mel (umas 4 ou 5 colheres de sopa)
  • Escolha um local discreto da casa, com pouca passagem de pessoas, e coloque a oferenda para Omulú e acenda a vela de 7 dias ao lado do cesto;
  • Vá mentalizando durante toda a execução da oferenda seus pedidos a Omulú e ao final faça suas preces, pedindo saúde e proteção.

Salve a Umbanda!


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