UMBANDA

Preceitos e Origem



"A Umbanda é de todos, nem todos são da Umbanda"

Um dia, hão de chegar, altivos e de peito impune, pessoas a dizer-lhes: sou umbandista, tenho fé em Oxalá, tenho mediunidade... com altivez e força tal que chegarão a lhe impressionar. Mas quando olhar bem seu semblante, você o verá opaco, translúcido e sem o calor de um verdadeiro entusiasta e batalhador em prol da mediunidade umbandista. 

A Umbanda é uma corrente para todos, mas nem todos se dedicam a ela como deveriam. 

O verdadeiro umbandista sente, vive, respira, se alimenta espiritualmente nela. 

Não com fanatismo, mas sim com dedicação aflorada no fundo d'alma. 

Ser umbandista é difícil por ser muito fácil; é só ser simples, honesto e verdadeiro. 

Não batam no peito e digam serem umbandistas de verdade, mas procurem demonstrar com trabalho, luta, dedicação e, principalmente, emoção de estar trabalhando nessa corrente. 

Eu lhe garanto que a recompensa será só sua. 

Se você ainda não sabe tanto assim sobre os principais fundamentos da umbanda, convido-o a ficar e ler esse artigo para que absorva o máximo possível de conteúdo. 

Se você já sabe, mas deseja relembrar tudo, esse também é o lugar certo para você. As leis da umbanda não variam muito de vertente para vertente, são regras bastante sólidas que não deixam abertos espaços para diferentes interpretações além das originais. 

A umbanda é uma religião fascinante justamente por conta de seus fundamentos. 

Muitas pessoas pensam que a doutrina da umbanda é algo muito fora da nossa realidade, mas a verdade é que isso não é verdade. 

Tudo isso parte basicamente dos direitos humanos e da lei do retorno, em que o que é feito ao outro é recebido de volta. 

Umbanda quem és? 

Quem sou? É difícil determinar. 

Sou a fuga para alguns, a coragem para outros. 

Sou o tambor que ecoa nos terreiros, trazendo o som das selvas e das senzalas. 

Sou o cântico que chama ao convívio seres de outros planos. 

Sou a senzala do Preto-velho, a ocara do Bugre, a cerimônia do Pajé, a encruzilhada do Exú, o jardim da Ibejada, o ioga do Hindu e o orun dos Orixás.

Sou o café amargo e o cachimbo do Preto-velho, o charuto do Caboclo e do Exu; o cigarro da Pomba-gira e o doce do Ibejê. 

Sou a gargalhada da Rosa caveira, o requebro da Maria Padilha, a seriedade do Seu Capa Preta. Sou o sorriso e a meiguice de Maria Conga e de Pai José; a traquinagem de Mariazinha, Risotinho, Joãozinho e a sabedoria do Caboclo Tupinambá.

Sou o fluido que se desprende das mãos do médium levando a saúde e a paz.

Sou o isolamento dos orientais, onde o mantra se mistura ao perfume suave do incenso.

Sou o Templo dos sinceros e o teatro dos atores. 

Sou livre. Não tenho Papas. 

Sou determinada e forte. 

Minhas forças? 

Elas estão no homem que sofre e que clama por piedade, por amor, por caridade. 

Minhas forças estão nas entidades espirituais que me utilizam para seu crescimento. 

Estão nos elementos.

Na água, na terra, no fogo e no ar; na pemba, na cuia, na mandala do ponto riscado. 

Estão finalmente na tua crença, na tua fé, que é o elemento mais importante na minha alquimia.

Minhas forças estão em ti, no teu interior, lá no fundo, na última partícula da tua mente, onde te ligas ao Criador. 

Quem sou? 

Sou a humildade, mas cresço quando combatida. 

Sou a prece, a magia, o ensinamento milenar, sou cultura. 

Sou o mistério, o segredo, sou o amor e a esperança. 

Sou a cura. 

Sou de ti. 

Sou de Deus. 

Sou Umbanda. Só isso. Sou Umbanda.

Minha igreja eu chamo de Terreiro.

Meu altar eu chamo de Congá.

Minha missa eu chamo de Gira.

Acredito em Deus a quem chamo de Olorum.

Acredito em Jesus a quem chamo de Oxalá.

Meu terço chamo de Guia.

Minha oração chamo de Ponto.

O meu céu é Aruanda.

Os meus santos são Orixás.

Apenas respeite o meu sagrado...

EXÚ ENTIDADE

Me ensinou que se deseja algo, têm que conquistar.

POMBO GIRA

Me ensinou que amor verdadeiro é conquistado, não amarrado.

PRETOS VELHOS

Me ensinaram que a humildade, caridade, paciência e amor! Evolui o espírito.

CABOCLOS

Me ensinaram que a felicidade é uma permissão que temos que nos dar.

BOIADEIRO

Me ensinou que os verdadeiros amigos são os que permanecem do seu lado sempre.

COSMINHOS

Me ensinaram que a fé é o único sentimento puro que existe.

OXUM

Me ensinou que o amor vale mais que o ouro.

OMOLU

Me ensinou que não existe sofrimento em recomeçar tudo outra vez.

OGUM

Me ensinou que nem sempre se vence uma batalha com guerra.

OXÓSSI

Me ensinou que só a coragem é o suficiente pra realizar meus sonhos.

XANGÔ

Me ensinou a acreditar em sua justiça divina, e não na minha.

IANSÃ

Me ensinou a vencer as tempestades da vida com a cabeça erguida.

IEMANJÁ

Me ensinou como é amar a todos os filhos, independente de suas características.

OXALÁ

Me ensinou que para ser bom não precisa ser santo, mas que eu não faça nada contra um outro irmão.

Conheça os fundamentos da umbanda

"Umbanda é de origem Bantu, da língua Kimbundu e significa: Magia da Cura"... 

Muitas pessoas, só por não terem os devidos conhecimentos sobre os fundamentos reais da umbanda, acabam acreditando em falsos artigos que dizem coisas absurdas sobre os fundamentos, os quais não condizem com a realidade.

Dentro dessa perspectiva, vale muito mais a pena optar por sites mais sólidos e confiáveis que apresentam informações corretas sobre este assunto.

Bom, partindo sem mais delongas para os fundamentos da religião, devemos entender que tudo se constrói em cima da equidade. Na umbanda, somos todos iguais, todos merecemos respeito e ninguém deve receber julgamentos.

É um conceito muito bonito, porque, enquanto a maioria das religiões prega a exclusão, a umbanda prega a equidade; a parceria entre todos os povos humanos.

Depois disso, uma importante questão acerca dos fundamentos é a lei do retorno. A umbanda coloca a lei do retorno como uma das mais potentes e fortes leis, e não é para menos.

Na visão da umbanda, tudo o que fizeram de mal para nós será cobrado e tudo o que fizermos de mal para o outro também. Ou seja, se um dia você mentiu e enganou o seu irmão, um dia você sofrerá o mesmo.

Além do respeito e da lei do retorno, outro ponto forte da umbanda é a questão do respeito à natureza. Essa é uma atitude muito bonita, afinal a natureza é a nossa casa, a nossa fonte de alimentos e medicamentos, sem ela nada somos.

Outro ponto que poucas pessoas compreendem de início é a fé dentro da umbanda. 

Nessa religião, a fé é o pilar de todas as coisas. Sem a fé, não se realizam orações, simpatias e tampouco rituais. Para que possamos ver montanhas se movendo, precisamos acreditar piamente nisso.

Os fundamentos da umbanda são todos colocados em cima de uma bela base de humanidade, de benfeitoria e de agradecimentos, isso é algo louvável da religião.

Jesus Cristo na Umbanda

Muitas pessoas sequer sabem disso, mas Jesus Cristo na umbanda, assim como no cristianismo, é visto como o ser maior, aquele que detém em si todo o poder, aquele perfeito que caminhou sobre a terra.

Não é porque o cristianismo não é falado pela umbanda que deixamos Jesus de lado, de maneira alguma. Dentro da Umbanda, Jesus é visto com tanto prestígio quanto no cristianismo justamente por conta do respeito, do amor e da admiração.

Os espíritos evoluem, nunca são cem por cento maus

Dentre os fundamentos da umbanda que mais geram controvérsias, temos o que diz que os espíritos não são cem por cento maus, mas que estão simplesmente aprendendo a mudar para as suas melhores versões.

Ou seja, não importa se você fez muito mal a alguém em vida, pois, se você se permitir evoluir e melhorar, você com certeza se tornará alguém bom, pois a umbanda defende que somos todos puros e bons ao nascer.

Partindo-se disso, na umbanda dá-se a esperança, a segunda chance aos que tanto erraram, para que sejam capazes de aprender com os seus próprios erros, evoluindo desde então para que o futuro seja mais suave.

Amai-vos uns aos outros

Assim como na religião cristã, o principal lema da umbanda é "Amai-vos uns aos outros". 

Como a umbanda prega a maior igualdade e o menor preconceito, pode ser interessante ter como esse o lema da religião.

Na umbanda, de fato, amam-se os próximos como a nós mesmos. Isso é o que nos é ensinado desde cedo, para que nunca possamos esquecer.

É uma bela religião e até quem não sabe nada sobre isso acaba ficando encantado e apaixonado pela umbanda.

Veja abaixo suas origens:

Origem 1

Na África em terras bantas, muito antes de chegada do branco, já existia o culto aos ancestrais (chamados depois no Brasil "guias"). Também era conhecida a palavra "mbanda" (umbanda) significando "a arte de curar" ou "o culto pelo qual o sacerdote curava", sendo que mbanda quer dizer "O Além - onde moram os espíritos". 

Os sacerdotes da umbanda eram conhecidos como "kimbandas" (ki-mbanda = comunicador com o Além).

Origem 2

A palavra Umbanda é um vocábulo sagrado da língua Abanheenga, que era falada pelos integrantes do tronco Tupy. Diferentemente do que alguns acreditam, este termo não foi trazido da África pelos escravos. Na verdade, encontram-se registros de sua utilização apenas depois de 1934, entre os cultos de origem afro-ameríndia. Antes disto, somente alguns radicais eram reconhecidos na Ásia e África, porém sem a conotação de um Sistema de Conhecimento baseado na apreensão sintética da Filosofia, da Ciência, da Arte e da Religião. 

O termo Umbanda, considerado a "Palavra Perdida" de Agartha, foi revelado por Espíritos integrantes da Confraria dos Espíritos Ancestrais. Estes espíritos são Seres que há muito não encarnam por terem atingido um alto grau de evolução, mas dignam-se em baixar nos templos de Umbanda para trazer a Luz do Conhecimento, em nome de Oxalá - O Cristo Jesus. Utilizam-se da mediunidade de encarnados previamente comprometidos em servir de veículos para sua manifestação.

Os radicais que compõem a palavra UMBANDA são, respectivamene: AUM - BAN - DA. Sua tradução pode ser comprovada através do alfabeto Adâmico ou Vattânico revelado ao Ocidente pelo Marquês Alexandre Saint-Yves d'Alveydre, na sua obra "O ARQUEÔMETRO"

AUM significa "A DIVINDADE SUPREMA" BAN significa "CONJUNTO OU SISTEMA" DAN significa "REGRA OU LEI"UNIÃO destes princípios radicais, ou AUMBANDAN, significa "O CONJUNTO DAS LEIS DIVINAS."

A Umbanda é uma religião livre de dogmas e leis predeterminadas em livros sagrados ou criados por homens. A mesma não reconhece nenhum livro como sagrado e tem na contemplação da natureza o Sagrado. Centenas de livros na biblioteca Umbandista são considerados livros de fé, pesquisa e estudo para melhor compreensão de seu sistema filosófico.

Mas se é que tenha que haver um dogma, que seja ética e bom senso.

A religião segue na crença da evolução do setenário sagrado que todos trazem em si. 

Setenário este conhecido como sentidos da vida e são: Fé, Amor, Conhecimento, Equilíbrio, Ordem, Evolução e Geração.

Assim podemos vislumbrar como atua a ética neste sentidos da vida.

Desenvolvimento da Fé é o sentido de crer, mantê-lo lúcido longe das ilusões da matéria promovendo assim a transcendência espiritual do seu Ser;

AMOR

Prática do Amor e do perdão constantemente, amar a todos sem distinção de credo, raça, cor, etc, somos todos partes de um único Criador e nos manter em comunhão com sua criação é estar próximo do mesmo;

CONHECIMENTO

É o sentido que promove a expansão consciencial do ser, o desenvolvimento racional e intelectual equacionado com o emocional desenvolve no ser sua evolução mental, buscar o conhecimento sobre o todo é obrigação do ser e não usar jamais o conhecimento para ludibriar ou envolver negativamente o próximo menos favorecido, o fato de alcançar conhecimentos elevados em qualquer campo da vida gera no conhecedor maior responsabilidade perante o próximo e a natureza;

EQUILÍBRIO

Equilíbrio é o senso de justiça que vamos aperfeiçoando conforme aprimoramos o nosso ser, buscar equilíbrio entre nossos instintos e emoções é fundamental para melhor assentarmos nosso ser no contexto divino a qual estamos inseridos e melhor contribuir para o desenvolvimento dos nossos semelhantes e natureza a qual habitamos. Atingir a noção exata entre um ato de seu interesse que pode ferir a harmonia do próximo é a meta para todos;

ORDEM

A inexistência do caos, o ser precisa constantemente ordenar seus pensamentos e emoções para que não crie um caos intimo e tampouco ao seu redor e com os seus;

EVOLUÇÃO

Evoluir é transmutar o seu ser limitado por pré-conceitos e conceitos errôneos, emoções desequilibradas em tudo o que pode ser de mais harmônico, curando a si próprio e libertando-se da amarras criado por si próprio, promovendo assim a integração consciente com a Criação Divina e auxiliando a evolução dos semelhantes e da própria natureza a qual faz parte.

GERAÇÃO

É a vida propriamente dita, assim como a criação e a criatividade que proporciona aos seres sua adaptação em qualquer meio. Já a multiplicação é fato presente em toda a criação de Deus, tudo o que Ele gera se multiplica, quer seja entre os humanos ou entre os micros seres vivos do Universo. Logo, o papel do ser racional que somos é conhecer e zelar pela vida planetária, buscando o equilíbrio da natureza a qual promove e mantém a vida.

Estes pontos é o que podemos ter como Ética Filosófica da Umbanda Sagrada, ou até mesmo como os Sete Mandamentos da Umbanda.

Os sete reinos sagrados:

1 - Primeiro Reino - Fogo - Força Ígnea - Tatá Pyatã - Orixá regente é Ogum

2 - Segundo Reino - Terra - Força Telúrica - Yby Pyatã - Orixá regente Xangô

3 - Terceiro Reino - Ar - Força Eólica - Ybytu Pyatã - Orixá regente Iansã

4 - Quarto Reino - Água - Força Hídrica - Y Pyatã - Orixá regente Iemanjá

5 - Quinto Reino - Matas - Forças Vegetal e Animal - Caá Pyatã - Orixá regente Oxossi

6 - Sexto Reino - Humanidade - Força Hominal - Abá Pyatã - Orixá regente Oxalá

7 - Sétimo Reino - Almas - Força Espiritual - Angá Pyatã - Orixá regente Omulu

A Umbanda é Magia 

Magia do marafo. Magia da fumaça Magia do som. Magia do movimento o marafo atrai. A fumaça defuma o som harmoniza. E o movimento vibra Umbanda é magiaMagia da guia. 

Magia do ponto riscado. Magia do ponteiro. A guia protege. A pemba ordena. O ponteiro firma. Umbanda é magia. Magia da Oxalá. Magia de Ogum. Magia de Oxossi. Magia de Xangô. 

Oxalá é amor. Ogum é a força. Oxossi é a vida. Xangô é o equilíbrio, a justiça. Umbanda é magia Magia de Iemanjá. Magia de Oxum. Magia de Iansã. Iemanjá é a criação. Oxum é o equilíbrio. Iansã é a guerreira. Umbanda é magia Magia do terreiro. Magia da hierarquia. Magia da corrente. O terreiro é a casa. 

A hierarquia é a ordem. A corrente a força. Umbanda é magia Magia do caboclo. Magia do preto-velho. Magia da criança. O caboclo é a força. O preto-velho é a humildade. A criança a inocência. Umbanda é magia Magia do exu. Exu é o equilíbrio de tudo. Saravá a magia da umbanda!

A Umbanda é Magia: Magia não é privilégio de ninguém

Magia é a arte de manipular a natureza criando campos de força. E é exatamente isso que fazem os Orixás nos terreiros de Umbanda. Juntam elementos para criar desde um simples patuá até uma enorme energia positiva para destruir outra da mesma intensidade criada por espíritos malignos. Magia é botar um imã dentro de um coité com água com uma guia para absorver as energias negativas desta guia.

É falar com as salamandras para esfriarem o fogo, permitindo tocá-lo sem se queimar. Ir no morro e ouvir o som do vento e falar com Iansã. Ou saber onde se esconde o duende. 

Magia não tem receituário nem dicionário. Magia é magia. Quem aguenta mandinga manipula patuá. Já vi um médium de 55 quilos, incorporado, carregar nas costas um homem de 140 quilos. Já vi espírito acender charuto com pemba. Sentar em cacos de vidro. Acender uma vela, apertar contra a parede e ela ficar pregada, acesa e sem queimar a frágil madeira. Vi muita coisa ao longo das minhas atividades espirituais. 

Apenas lamento o mau uso do termo magia. Todas as pessoas que trabalham na Umbanda são pequenos magos.

Uns conscientes e outros inconscientes, mas, direta ou indiretamente, praticam a magia. 

Por burrice tem gente matando cabritos, comendo carne crua e alguns, pasmem, praticando a magia do sexo, esta a mais burra e inexistente magia. São pessoas desorientadas e pervertidas usando o nome da magia para saciar seus instintos grotescos. Um conselho: não queiram entender a magia. Deixem isso para as entidades. 

Abaixo explico os termos usados pelo Caboclo Junco Verde na mensagem acima.

Magia do Marafo

A cachaça tem dupla função. Serve para amortecer o médium permitindo ao espírito melhor domínio de seu mental, além de ser manipulado no plano espiritual para fins que fogem completamente à nossa compreensão. Espírito não vem no terreiro para beber. O grande exu Tranca Ruas, inquirido sobre a necessidade do espírito beber respondeu:

Se quisesse beber não viria nos terreiros. Iria frequentar os bares onde vivem os alcoólatras e lá arranjaria um copo-vivo. (termo usado àqueles que são dominados por espíritos viciados em bebida).

Aqui vale um ensinamento. No mundo espiritual existe o principio da lei dos semelhantes, ou seja, o semelhante atrai o semelhante. Todo homem embriagado quase sempre está acompanhado de um espírito semelhante. O grande problema é que, como o espírito não pode ingerir a bebida, ele aspira, para sua satisfação, o cheiro do álcool, razão pela qual o bêbado (copo vivo), ingere enormes quantidades de bebida. Uma parte para ele e outra para o espírito. Interessante que esses espíritos protegem o seu doador, bem como nós fazemos com o copo que nos serve para beber água. Quando comecei a trabalhar na Umbanda, o Tranca Ruas, em um trabalho na encruzilhada bebeu uma garrafa inteira de Whisky. Dose para me mandar ao hospital em coma, pois sou avesso a bebidas alcoólicas e fico tonto com pequena dose de licor. Fiquei assustado. Pedi ao Tranca Ruas mudar a bebida, sob pena de não mais querer trabalhar com ele. Fui atendido. Hoje bebe um pouco vinho tinto seco. Isto é magia.

Magia da Fumaça

Todas as religiões do mundo usam a fumaça como depurador das energias. A defumação é sagrada e consagrada pelo mundo inteiro, desde os monges tibetanos até os padres católicos. 

O turíbulo do Orixá é o charuto. Faz parte da cultura indígena e por extensão da Umbanda. 

Não devemos confundir a fumaça do charuto com a defumação através de ervas ou bastões cheirosos. Ambos têm funções importantes na religião, mas são usados de forma diferente. 

Não devemos esquecer os vários tipos de fumaça usadas pelos espíritos. Além do charuto, o palheiro ou cachimbo do preto-velho, o cigarro comum das pombas-gira, também produzem o mesmo efeito. Uma forma também eficiente e forte para defumar é pano na brasa. Vejam, existem várias formas, mas todas produzem fumaça, mas também o cheiro. O fumo às vezes serve para as entidades nos darem lições. O Pai Antero, preto velho com quem trabalho, pediu para seu cachimbo fumo somente com ervas. Entretanto, exigiu que fosse eu quem o preparasse para ele o fumo. Indagado por que, disse: "enquanto prepara, vai se lembrar de mim..."

Magia do Som e do Movimento

A música foi feita para as pessoas se amarem. O som mexe nossos sentimentos. E também fazia parte da cultura dos índios. É um mantra. Mas não é só isso. O som repercute no éter. Ele vibra. A fala mansa domina e a fala grosseira irrita . Ele tem um equilíbrio, regulando nossas emoções. Quando ouvimos uma música forte, sentimos força interior. Ficamos mansos e dóceis ao som de uma música suave.Quem não se lembra da suavidade das canções de ninar docemente cantadas por nossas mães? E quem não se lembra dos sustos e medos passados na infância por gritos histéricos de alguém? 

Imaginem estarmos sentados à beira de um rio, olhos fechados, ouvindo o gostoso barulho da água formando pequenas marolas, ainda premiado com o canto de um sabiá e outros pássaros e uma pequena brisa nos refrescando. É um sentimento ligado ao som e movimento.

Agora estamos voltando para casa. Os carros em sentido contrário fazendo o ruído na janela, a buzina dos apressados motoristas tentando a ultrapassagem com o som ligado em volume máximo, tocando um pagode imoral desses conjuntos comerciais ou as barulhentas guitarras dessas bandas histéricas. Nossas emoções, com certeza, serão diferentes. O movimento tem o mesmo efeito do som. Reparem que um andar seguro, calmo e firme transmite uma personalidade segura. Um andar desordenado e atabalhoado agita as energias em sua volta. 

Vejam um exército marchando. O garbo dos soldados emociona a todos.

Falei do andar. E a dança! Quantos efeitos ela causa. Quando se fala em espiritualidade nosso parâmetro é Jesus Cristo. Na minha cabeça Jesus era um homem sereno, de andar firme, gestos harmoniosos e voz suave, pausada e clara, o que em absoluto me faz pensar fosse um homem triste. Ao contrário, imagino tenha sido um homem levando sempre um sorriso a todos, mas nunca deve ter dado uma gargalhada.

Nas suas caminhadas não devia cansar, pois seus passos deveriam ser firmes e uniformes, sem jamais correr. Se alguém me perguntasse qual o movimento mais equilibrado que pudesse conceber, responderia, sem hesitação: o levantar do braço de Jesus Cristo acompanhado de sua firme voz.

Magia da Guia

Uma vez perguntei ao pai Antero o que poderia ser tirado do ritual da Umbanda. 

Respondeu: "vou dizer o que não se pode tirar: as guias, os elementos, os mantras e a quimbanda". Na verdade, pela resposta, sobrou muito pouco. Mas voltemos às guias. A guia é o elemento de ligação entre o médium e o espírito. Imanta-se um campo de força nela centralizado, criando uma eficiente proteção contra eventuais energias negativas. Sempre carrego uma guia de miçanga pequena com a cor de meu Orixá.

Tempos atrás no encerramento de um trabalho de esquerda, uma médium não estava bem. O trabalho tinha começado às 20:00 horas. Eram quase 5:00 horas da madrugada. 

A última coisa que queria era perder tempo para o encerramento. Quis ser rápido. Não hesitei. Agarrei as mãos da médium e puxei aquela energia ruim. Em mim, saberia o que fazer. Deu certo, mas, além da indesejável vibração, atrasei catando no chão as contas da minha guia rompida no instante da passagem energética. Descobri ser ela um pára raios, ou melhor, um pára energias. A guia deve ser feita de acordo com a vontade do espírito. 

Guia não é colar e, muito menos, enfeite. Existem vários tipos de guia. A guia do Orixá cósmico é feita com pedras da cor cultuada pelo dirigente do terreiro. São pedras de cristal e suas miçangas podem ser distribuídas com bom gosto. Mas jamais exageradas ou grande.

Deve ser usada pendurada no pescoço e nunca atravessada no ombro. Guia de caboclo é feita com sementes de capiá, também conhecida como Lágrimas de Nossa Senhora, outras sementes como coronha (olho-de-boi), dentes, pedaços de ossos, bambus, conchas e outros elementos marítimos e até penas coloridas, tudo de acordo com a solicitação da entidade e conforme a sua origem.

Os pretos velhos são mais simplórios em suas guias. Gostam de muita simplicidade e preferem a guia inteira de sementes de capiá e poucos elementos. Fiz uma guia para o Pai Antero. Caprichei. Fiz toda cheia de elementos compatíveis com a sua força. De casca de côco. 

Entreguei-lhe orgulhoso. Ele agradeceu muito. Só que na primeira consulta deu de presente ao consulente. Fiz outra. Arrebentou. Fiz outra mais suave, e menor. 

Arrebentou. Fiz outra mais suave ainda. Arrebentou. Fiz outra só de casca de côco e com alguns búzios. Até hoje ele usa. Onde errei? Subestimei sua humildade. O Pai Jeremias também disse-me querer em sua guia um guizo de cobra. Fiz-lhe a guia, como queria, mas sem o tal guizo. Entreguei-lhe. Ficou alegre e eu também. Afinal não tinha reclamado a falta do elemento. Fez a mesma coisa que o Pai Antero. Deu de presente. Fiz outra, claro, com o guizo. Não presenteou mais. Guia não é nossa. Pertence à entidade, para nossa proteção.

Magia do Ponto Riscado

A sagrada grafia dos Orixás serve para identificar o espírito comunicante, para chamar falanges e construir campos de força. Vejam esta passagem: a gira era de quimbanda. O Exu Tranca Ruas das Almas havia armado um trabalho no centro do terreiro. Era para uma família necessitada. As entidades trabalhavam nele. Já passava da meia-noite quando a poderosa entidade comunicou sua intenção de fazer a entrega do trabalho na calunga pequena (cemitério). Alguns minutos depois disse não precisar mais ir ao cemitério, mas queria ficar no terreiro até o sol nascer. Para alívio geral, logo em seguida, levantou o trabalho, mandou descarregar e determinou o encerramento da gira. Espírito não brinca, principalmente uma entidade do cepo do exu Tranca Ruas das Almas.

A explicação veio de fora. O Exu Gira Mundo, incorporado em eficiente pai de santo, confidenciava estar maravilhado com o trabalho por ter o povo da calunga, segundo suas palavras, vindo no terreiro aceitar o trabalho solicitado. Quando o Exu Tranca Ruas das Almas riscou o ponto (grafia do Orixá), havia solicitado auxílio aos espíritos trabalhadores com a energia do cemitério. Disse fazer a entrega naquele local, por ser lá onde eles receberiam o trabalho. Com certeza ele recebeu uma mensagem tipo: "deixe que nós vamos lá", foi quando disse não precisar mais ir no cemitério, mas teria que ficar esperando por eles no terreiro o que aconteceria até o sol nascer. Vieram antes, receberam e aceitaram o trabalho, permitindo o encerramento da gira. Isto é uma das tantas magias do ponto riscado. Pai de santo experiente identifica o espírito pelo seu ponto riscado.

Magia do Ponteiro

Os antigos magistas já usavam a espada como elemento de grande importância em seus trabalhos de magia. Na verdade a ponta do aço é usada para explodir campos negativos de forças. Quando fincado, ele firma a magia, ou seja, firma o ponto. Todos os espíritos na Umbanda fazem uso do ponteiro. É difícil identificar suas intenções quando "batem os ponteiros". Mas batem, e batem muito bem.

Magia do Terreiro

O terreiro é a casa santa dos umbandistas. Nele se concentram todas as energias dos espíritos. Suas firmezas, o congá, a roncó, a casa dos exus, o respeito dos freqüentadores. É o lugar onde cultuamos e desenvolvemos nossa espiritualidade através do emocionante encontro com o mundo dos espíritos, o outro lado da vida, a nossa Aruanda.

Magia da Hierarquia

Uma pessoa da cultura disse-me um dia: "gostei muito da Umbanda. Lá todos são deuses, ou seja, todos têm condição de fazer o milagre." A hierarquia na Umbanda é respeitada por todos os participantes. O pai ou mãe de santo dita as regras e a filosofia da casa, as mães e pais pequenos são seus auxiliares diretos, os capitães cuidam da gira e dos médiuns e os ogans cuidam da engoma, o conjunto de instrumentos usados no terreiro. Sobre a obediência à hierarquia o Caboclo Akuan disse: "quem não sabe obedecer, jamais poderá mandar". Este conjunto de respeito forma a união e a integridade mágica da casa dos espíritos.

Magia da Corrente

Li e usei: Ninguém é tão forte como todos nós juntos.? A corrente é a grande força do terreiro. 

Uma vez alguém perguntou ao Pai Maneco a importância de um terreiro bonito e confortável. 

"Meu filho, se esta casa cair, referindo-se a parte material, pois batia na parede de alvenaria, vocês vão se reunir lá fora, olhando para o céu estrelado, e vão continuar trabalhando. Mas se a corrente se dissolver, o terreiro, mesmo bel o e sólido, vai fechar. 

Na verdade, acho a corrente mais merecedora de cuidados que estas paredes frias. 

Nunca trabalhei sozinho, só com a corrente. Quem trabalha sozinho, um dia ou outro, vai se complicar". É inevitável o desastre. A corrente, como diz a mensagem, é a força do terreiro. Tudo gira em torno dela. São meus pequenos deuses. Que Oxalá abençoe a todos eles.

Magia do Caboclo

A presença do índio brasileiro na umbanda é a prova incontestável de sua nacionalidade. 

Mesmo nas outras linhas a sua cultura está sempre presente. Ele representa a força. Nem poderia ser diferente, partindo de um povo morador nas matas e dentro das florestas e conhecedor de todos seus segredos, inclusive os espirituais.

Magia da Criança

Imaginem uma criança com menos de sete anos, possuindo a experiência e a vivência de um homem velho e ainda gozando a imunidade própria dos inocentes. Esta é a entidade conhecida na umbanda por erê. Fazem tipo de criança, pedindo como material de trabalho chupetas, bonecas, bolinhas de gude, doces, balas e as famosas águas de bolinhas, ou seja, o refrigerante e tratam a todos como tio e vô. Não sei. Às vezes fico atrapalhado. Acho que tem a ver com minha idade esta manifesta ir rita ção. Por outro lado, algumas vezes fico deslumbrado com a eficiência de seus trabalhos. Uma vez telefonou-me um fazendeiro assustado pelas mortes de seu gado. Achava ser trabalho feito. Ele foi no terreiro, tendo sido atendido normalmente. No final do trabalho uma criança incorporada chamou-o e, com uma pemba, fez um desenho no chão como se fosse um mapa todo recortado. No meio desenhou três corações e desenhou um risco, como um rio, fazendo um encontro com outro. Tio, falou. 

Os corações simbolizam seus três filhos.

O homem confirmou. Mostrando o mapa, disse ser a sua casa, construída com vários pedaços. 

O homem explicou ser sua fazenda constituída de várias áreas. Apontando exatamente no encontro dos riscos, disse estar ali o problema, estando a água cheia de veneno e onde os bichinhos do tio estavam morrendo. Mais tarde o fazendeiro telefonou-me dizendo estar a água do rio realmente envenenada por agro-tóxico. Outra vez, no encerramento do trabalho uma experiente médium deu sinais de incorporação de criança. Claro, disse-lhe não permitir a incorporação, afinal estávamos encerrando a gira. 

Mas não deu. Ela incorporou e batendo palmas e bunda no chão, veio ao meu encontro pedindo um dólar. Um dólar? Respondi. O que você vai fazer com um dólar? Ela insistiu: quero um dólar. Achamos graça.

A cena foi alegre e descontraída. Alguém tem um dólar para a criança? perguntei ironicamente. Da assistência uma moça fez sinal afirmativo. Fiquei perplexo. Somente eu conhecia o seu problema. Tinha câncer maligno nas cordas vocais e tinha cirurgia marcada. 

Da ironia à seriedade, convidei a moça para entrar no terreiro e fazer a entrega do dólar ao erê. A entidade fez festa ao dólar, deixou-o de lado e agarrou-se na garganta da moça fazendo-lhe leves passes magnéticos. Ela fez a cirurgia na terra, mas está curada. Os erês são, via de regra, responsáveis pela limpeza espiritual do terreiro. A incorporação da criança é típica. Sempre andam se arrastando e dificilmente ficam em pé. Perguntaram ao Pai Maneco por que a incorporação se dá desta forma? "Se não for assim, ninguém conseguirá controlar a gira", respondeu lacônico.

Magia do Preto Velho

O Preto Velho é o feiticeiro, apesar de suas mensagens serem baseadas no evangelho. É o fala mansa, humilde, mas intransigente. É ele quem nos dá os puxões de orelha. Na magia, além dos segredos de origem africana, conhecem a cultura dos pajés indígenas.

Eles que organizam os trabalhos para o exu, aliás, seu subalterno direto.

Quimbanda

Acho estranho que muita gente prefira acreditar que Exu é o diabo, do que crer na simplicidade de uma entidade boa e comum. Talvez seja a estranha força da imagem em gesso do Exu.

Um grande problema para a desmistificação da Umbanda é a colocação correta da Quimbanda e de seus espíritos, os Exus e as Pombas Gira. Tem gente que diz que o Exu é o Diabo. Essa estúpida assertiva, muitas vezes até cometida por umbandistas, tem custado muito para nossa religião. Em todos os momentos que falamos da Umbanda não dispensamos a ladainha que a Umbanda é nova, não tem - e espero que nunca tenha, nenhuma codificação e nenhuma regra existente para diferenciar o certo do errado. 

Errado na Umbanda só o que fere a moral, o bom senso, a ética ou a cultura. 

O exu não é o agente do mal. Ele é a entidade polêmica, misteriosa e distorcida da umbanda. 

Sua imagem, na crença popular, é uma figura demoníaca, moldada em gesso de cor vermelha, algumas ainda possuindo chifres e pés de animal. Absurdamente, é assim que ele é cultuado, inclusive, confesso, em nosso terreiro, muito embora saibamos que estamos fazendo parte desta massa ignorante. Mas a força da nossa intenção transforma essas imagens em elementos de ligação com esse mundo maravilhoso - dos Exus.

Será que por trás dessas figuras mal feitas e de péssimo gosto artístico não existe um engodo espiritual para esconder suas verdadeiras identidades? Vamos analisar e tentar descobrir pelo raciocínio inteligente quem eles são.

A umbanda é brasileira, baseada em fatos e personagens na época do descobrimento, tendo nos caboclos, nossos ameríndios, a figura mandante, seguido do preto-velho, simbolismo da raça africana escravizada pelos europeus e as crianças que são os espíritos de qualquer nacionalidade que tenham desencarnado na idade da inocência. 

Fecha-se o Triângulo da Umbanda: Caboclos, Pretos e Crianças. Sabendo serem essas as entidades que compõem a Umbanda, não resta para a Quimbanda, outro tipo de espírito senão os originários da Europa, no caso os nobres, príncipes, lordes, almirantes, eclesiásticos, figuras letradas e culturalmente avançados.

Isso aconteceu através da evolução dessas almas pela reencarnação. Se os europeus invadiram nosso país, mataram nossos índios, escravizaram os africanos e cometeram toda espécie de mal, dentro de seus resgates cármicos podem, espontaneamente, terem aceitado a situação de serviçais àqueles que, em vidas anteriores, foram seus carrascos. 

A lógica desse argumento baseia-se no fato que seria estranho e de difícil aceitação um príncipe apresentar-se em um terreiro de umbanda, carregando um tridente, afirmar estar morando no cemitério, aceitar farofa, azeite de dendê, charuto e cachaça como oferenda, e ainda receber ordens de um índio ou de um escravo. O melhor é se esconder atrás de um comportamento atípico às suas nobres origens.

Dos elementos formadores das bases da Umbanda surgiram as sua principais correntes religiosas, as quais interpreto assim:

1ª Corrente: Formada pelos epíritos nativos que aqui viviam antes da chegada dos estrangeiros conquistadores. Esses espíritos já conheciam o fenômeno da mediunidade de incorporação, pois o xamanismo multimilenar já era praticado pelos seus pajés em suas cerimônias. Eles já acreditavam na imortalidade do espírito, na existência do mundo sobrenatural e na capacidade de "os mortos" interferirem na vida dos encarnados. 

Também acredi­tavam na existência de divindades associadas a aspectos da natureza e da Criação Divina. Tinham um panteão ao qual temiam, respeitavam e recorriam sempre que se sentiam ameaçados pela natureza, pelos inimigos ou pelo mundo sobrenatural. 

Também acreditavam na existência de espíritos malignos e de demônios infernais, mas sem a elaboração da religião cristã que aqui se estabeleceu.

2ª Corrente: Os cultos de nação africana, sem contato com os nativos brasileiros, tinham essas mesmas crenças, só que mais elaboradas e muito bem definidas. Seus sacerdotes praticavam rituais e magias para equilibrar as influências do mundo sobrenatural sobre o mundo terreno e também para equilibrar as pessoas.

Acreditavam na imortalidade dos espíritos e no poder deles sobre os encarnados, chegando mesmo a criar um culto para eles (o culto de egungum dos povos nigerianos).

Também cultuavam os ancestrais por meios de ritos elaboradíssimos e que perduram até hoje, pois são um dos pilares de suas crenças religiosas.

Sua cultura era transmitida oral­men­te de pai para filho, na forma de lendas, preservando conhecimentos muito antigos, como a criação do mundo, dos homens e até eventos análogos ao dilúvio bíblico.

A Umbanda herdou dos cultos de nação afro o seu vasto panteão Divino e tem no culto às divindades de Deus um dos seus fundamentos religiosos, tendo desenvolvido rituais próprios do religamento do encarnado com sua divindade.

O panteão Divino dos cultos afros era pontificado por um Ser Supremo e povoado por divindades quês são os executores e manifestadores Dele junto aos seres humanos, assim como são seus auxiliares Divinos que o ajudaram na concretização do mundo material, demonstrando-nos que, de forma simples, tinham uma noção exata, ainda que limitada por fatores culturais, da forma como se nos mostra Deus e seu universo Divino.

3ª Corrente: Formada pelos kar­decistas de mesa, que incorporavam espíritos de índios, de ex-escravos negros, de orientais, etc. Criaram a corrente denominada "Umbanda Bran­ca", nos moldes espíritas, mas na qual aceitavam a manifestação de caboclos, pretos-velhos e crianças.

Esta corrente pode ser descrita como um meio termo entre o espiritismo, os cultos nativos e os afros, pois se fundamenta na doutrina cristã, mas cultua valores religiosos herdados dos índios e negros.

Não abre seus cultos com cantos e atabaques, mas sim com orações a Jesus Cristo. As suas sessões são mais pró­ximas dos kardecistas que das um­bandistas genuínas, que usam cantos, palmas e atabaques. Seus membros se identificam como Espíritas de Umbanda.

4ª Corrente: A magia é comum a toda a humanidade e as pessoas recorrem a ela sempre que se sentem ameaçadas por fatores desconhecidos ou pelo mundo sobrenatural, principalmente pela atuação de espíritos malignos e por processos de magia negra ou negativa.

Dentro da Umbanda, o uso da ma­gia branca ou magia positiva se disseminou de forma tão abrangente que se tornou parte da religião, sendo impossível separar os trabalhos religiosos espiri­tuais puros dos trabalhos espirituais má­gicos. Muitas pessoas desconhecem a magia classificada como magia religiosa. Mas esta nada mais é que a fusão da religião com a magia.

Estas são as principais correntes religiosas e doutrinarias que formam as bases da Umbanda. 

E isso sem falarmos do sincretismo religioso, pela qual a religião católica nos forneceu as suas imagens que, colocadas em nossos al­tares, facilitaram o processo de tran­sição de católicos para a Umbanda.

A estrutura religiosa espiritual da Umbanda já está pronta e só falta ser estruturada aqui, no plano material, pa­ra dar-lhe uma feição uniforme, quando seus valores religiosos e seus funda­mentos Divinos serão definitivos, dei­xan­do de mudar ao sabor das suas cor­rentes mais expressivas.

Os mensageiros espirituais nos aler­tam que esta estruturação deve ser feita de forma lenta e muito bem pen­sada. Nós temos certeza de que no fu­tu­ro a Umbanda terá uma feição re­ligiosa muito bem definida, pois suas cor­rentes formadoras se unificarão e se uniformizarão, fortalecendo a Umbanda como religião.

TRONOS DA UMBANDA SAGRADA - TEOGONIA UMBANDISTA

Teogonia: conjunto de divindades cujo culto constitui o sistema religioso de um povo; genealogia dos deuses.

A umbanda é uma religião, e como tal tem sua teologia, fundamentada em Deus e Suas divindades, em Olorum e nos Orixás.

Olorum é o Divino Criador de tudo o que existe e está em tudo o que criou. Já os Orixás são em si mesmos as qualidades divinas manifestadas por meio de individualizações do Divino Criador.

Assim sendo, fica fácil explicarmos o panteão divino da Umbanda, porque cada Orixá rege um dos aspectos da natureza, da vida dos seres e até das criaturas.

Uma divindade é em si mesma manifestação de Deus mediante uma de Suas qualidades divinas. Logo, se adoramos Ogum, que é em si mesmo a qualidade ordenadora de Olorum, então estamos adorando o Orixá que rege sobre a Ordem e é o aplicador da Lei Maior em todos os aspectos da criação.

Sim, porque a qualidade ordenadora de Olorum está presente em todos os aspectos da Sua criação divina. E tanto a encontramos na Fé quanto no Amor, tanto na Justiça quanto na Geração.

Portanto, Ogum é a divindade unigênita de Olorum, ao qual incumbido a manifestação de sua qualidade ordenadora.

Ogum em si mesmo a qualidade ordenadora do Divino Criador Olorum e, como divindade regente da Ordem, é o aplicador da Lei Maior em todos os aspectos da criação.

Um ser manifestador de uma qualidade divina só assume a condição de divindade se for em si mesmo essa qualidade.

Um músico não é a música em si, mas tão somente uma pessoa que tem o dom ou faculdade de harmonizar os sons e torná-los melódicos e agradáveis aos nossos ouvidos.

Um juiz não é a justiça em si mesma, mas tão somente uma pessoa que tem o dom ou a faculdade de lidar com as leis e dar-lhes uma interpretação abalizada.

Já o mesmo não acontece com uma divindade, pois ela tanto é uma qualidade divina como é sua manifestadora unigênita.

Por unigênita entendam que é aquela divindade que está associada a Deus justamente porque é parte d'Ele, e é em si mesma a manifestadora de um de Seus aspectos.

Ogum é a divindade unigênita, ou a única gerada, que é em si mesmo a ordenação divina. Logo, Ogum não pode ser dissociado de Deus, pois se clamamos pela Lei Maior, Ogum é quem se manifesta como divindade aplicadora dela em nossa vida.

E mesmo que não clamemos pelo seu auxí­ lio, ainda assim será ele o seu aplicador, pois é em si mesmo a divindade que a rege e a aplica em todos os aspectos da criação e da vida, já que ele é a Lei Maior em si mesmo.

Deus é o todo em Si mesmo, mas nas partes que formam esse todo divino, nós vemos Suas divindades, que são indissociadas das Suas qualidades formadoras desse todo, que é Ele em Si Mesmo.

Se dissociarmos uma divindade de Deus, nós estaremos descaracterizando-a e alterando o seu caráter divino, indissociável de uma qualidade Sua?

A Umbanda cultua todo um panteão divino, porque entende que em cada uma das divindades desse seu panteão está Deus, e cada uma delas é em si mesma uma de suas qualidades?

O umbandista entende que tanto pode clamar à Lei Maior quanto a Ogum que estará clamando ao mesmo aspecto de Deus, já que o que caracteriza Ogum é esta sua qualidade divina e sua condição de aplicador divino da Lei Maior, sempre associado ao próprio caráter ordenador do Divino Criador.

Então sintetizamos e definimos Ogum desta forma: "Ogum é em si mesmo a ordenação divina; é a divindade manifestadora da Lei Maior e seu aplicador, tanto na criação divina quanto na vida dos seres".

Observem que a Umbanda herdou dos cultos de nação toda uma teogonia, ensinada por meio das lendas e dos mitos africanos, mas as reinterpretou e as adaptou à sua concepção de como devemos entender as divindades de Deus, os nossos amados e adorados Orixás.

Surgiu, então, toda uma nova teogonia, já adaptada à religião de Umbanda que, sem renegar sua origem, no entanto reservou para si o melhor modo de ensinar suas divindades aos fiéis.

Aos poucos, os Orixás foram manifestando suas qualidades, e quem as transmitiram foram os guias espirituais que se manifestam durante os trabalhos de incorporação.

Com isso, Ogum foi sendo recomendado como a divindade a ser evocada para quebrar uma demanda, para abrir os caminhos, etc., pois é o aplicador da Lei Maior em todos os aspectos da criação. É o ordenador divino!

Uma demanda é um choque cármico. Logo, Ogum é a Lei ordenadora dos carmas.

Um caminho é uma senda evolutiva. Logo, Ogum é o direcionador da evolução ou do caminho a ser seguido ordenadamente pelos seres.

E assim, de recomendação em recomendação dadas pelos guias espirituais, os umbandistas foram dando novas feições aos Orixás, que foram assumindo caráter bem definido dentro da nova religião.

Ogum assumiu sua condição de guardião da Lei na Umbanda e sua natureza reta e justiceira amoldou suas linhas de trabalhos espirituais e o caráter justo e vigoroso dos seus caboclos de Umbanda.

Ou alguém imagina que antes do advento da religião de Umbanda, nos antigos terreiros de Candomblé, baixava Caboclo, Preto-Velho ou Exu para dar consulta, realizar desobsessões, dar passes, etc.?

Isso não acontecia e o que tínhamos era o culto puro aos Orixás. Já essas coisas, hoje realizadas pelos espíritos-guias de Umbanda, eram realizadas segundo a tradição herdada da África e feitas segundo preceitos e oferendas já há muito estabelecidas como a forma correta de ativar um Orixá e conseguir sua ajuda.

Mas à maioria passou despercebido que a nova maneira de alcançar os mesmos objetivos estava adaptando-os aos tempos modernos, onde seus fiéis seriam pessoas vivendo em cidades e com difícil acesso à natureza imaculada, que era onde cultuavam-se as divindades.

Toda uma transformação estava acontecendo no modo de cultuar e evocar os Orixás, assim como na forma de oferenda-los, pois as antigas práticas estavam sendo substituídas por novas e muito mais simples. Mas isso se chocava os tradicionalistas, no entanto atendia a esta vontade, manifestada pelos próprios Orixás, que já viam seus futuros fiéis residindo em gigantescas metrópoles, morando em apartamentos ou casas isoladas da natureza, onde eram oferendados segundo a tradição africana.

Então os Orixás foram assumindo novas características e feições, todas direcionadas com a nova religião, e atendendo do mesmo modo aos clamores de seus fiéis adoradores. Ou alguém acredita realmente que só um "pai de santo" raspado no Candomblé tem acesso a eles?

Se acredita nisso, então está precisando, e rápido, de todo um conhecimento acerca de Deus e de Suas divindades e da forma como atuam na nossa vida.

Sim, porque uma divindade é anterior aos seus adoradores e superior, em todos os sentidos, aos seus sacerdotes. Se bem que é comum ouvimos pessoas dizerem "Eu vou 'mandar' meu Orixá te ajudar".

Será que alguém manda realmente em uma divindade? Ou será que estão enganados e o modo correto de se expressar seria este: "Eu vou clamar e solicitar o auxílio do Orixá que me rege e pedir-lhe, reverente, que o ajude a superar logo suas dificuldades, meu irmão!"

Sim, porque as divindades de Deus são o que são: divindades de Deus!

Elas independem de nós para ser o que são e atuar em nossa vida. Elas são as divindades de Deus. Elas são as partes divinas d'Ele, enquanto nós, cada um de nós, somos uma de Suas partes humanas.

As divindades nos regem, e não o contrário. Logo, sem elas para dar-nos sustentação, somos nulos no campo religioso.

Voltando ao nosso comentário inicial, então temos em Deus todas as qualidades e temos nas suas divindades os Seus manifestadores delas, já como mistérios divinos, pois estão em todo o Universo como qualidades do Criador, integradas à Sua criação.

Por isso a religião de Umbanda incorporou um número limitado desses mistérios, porque os identificou como as divindades irradiadoras deles e regentes das sete irradiações divinas que regem a vida dos seres em evolução neste nosso planeta.

Aos poucos, a espiritualidade foi se afixando em tomo de uns poucos nomes de divindades e a partir delas deu início à formação da teogonia de Umbanda Sagrada, adotando um conjunto de Orixás, que forma um sistema religioso coeso e sustentador de todas as manifestações espirituais que acontecem nas tendas de Umbanda.

Com isso em mente, vamos comentar o caráter e a natureza das divindades que formam o universo religioso da Umbanda:

Olorum é o Princípio Incriado, que dá origem a tudo, pois tudo é gerado n 'Ele ou por Ele. Logo, Ele está na origem de tudo e de todos;

Olorum atua na vida de todos e a ninguém desampara em momento algum, pois todos estão n'Ele;

Mas Olorum também atua sobre os seres por meio de Suas divindades, que são manifestadoras de Suas qualidades divinas;

As divindades só são manifestadoras das qualidades de Olorum, porque são em si mesmas as individualizações delas;

Uma qualidade de Olorum é um mistério da criação. Logo, é um mistério criador, pois é parte ativa da criação;

Se uma divindade é manifestadora de uma qualidade de Olorum porque é ela em si mesma, então todas as divindades são mistérios da criação e são mistérios criadores, ativos nas partes que formam no todo, que é Olorum em Si;

Olorum manifesta-se a todos o tempo todo e durante todo o tempo, pois Ele é o princípio, o meio e o fim de tudo, e tudo o que acontece, ocorre n'Ele;

Logo, a finalidade das divindades é manifestar Olorum através do mistério que elas são em si mesmas, porque são individualizações das Suas qualidades;

Na Umbanda, cada divindade é responsável por um aspecto divino que rege a criação. Assim, Ogum cuida da Lei; Xangô da Justiça; Oxóssi do Conhecimento; Oxalá da Fé; etc.;

Logo, a Umbanda não é politeísta, porque entende que cada Orixá é apenas a divindade responsável por uma parte da criação; é a manifestadora de uma qualidade do Criador e é a aplicadora de um dos aspectos divinos na vida dos seres, das criaturas e das espécies.

Os Orixás não são deuses, mas divindades de Deus, e não chamam para si o fim último dos seres, mas tão somente os amparam até que evoluam, desenvolvam seus dons naturais, alcancem seus fins em Deus e tornem-se, também, manifestadores das qualidades divinas d'Ele.

Com isso explicado, então temos a base fundamental da religião de Umbanda.

Um Deus Criador na origem de tudo e de todos, inclusive dos Orixás, que são as divindades unigênitas manifestadoras das Suas qualidades;

Em Deus tudo tem sua origem e nada pode ou deve ser disso­ ciado d'Ele, porque fora d'Ele nada existe por si só;

Logo, todas as divindades estão em Deus, porque, se não estiverem, não só perdem sua condição de divindades como deixam de existir;

Na Umbanda, adoram-se as divindades porque ao adorá-las estamos adorando as próprias qualidades de Deus. Esse procedimento tem sido estimulado desde os primórdios da humanidade. Foi com esta finalidade que Ele individualizou suas qualidades e as multiplicou em Suas divindades, que passaram a manifestá- lo segundo Sua vontade para com cada uma delas;

Olorum, o Divino Criador, é tão infinito em Si mesmo, que temos a necessidade de recorrer às Suas divindades, pois é por meio delas que conseguimos vislumbrar Sua grandeza, magnitude e infinitude.

Vemos a grandeza da Lei Divina em Ogum. E porque a divindade Ogum é ordenadora da criação, das criaturas e das espécies, então vemos a sua qualidade ordenadora atuando em toda a criação divina.

Vemos Ogum ordenando o comportamento das pessoas, dos espíritos e das outras divindades, mas o vemos ordenando a gênese de um ser, de um vegetal, de um planeta e mesmo do Universo, pois ele é em si mesmo essa qualidade de Deus, cujo caráter divino é ordenador e tudo o que Deus cria obedece a uma ordem preexistente em Si mesmo, pois Sua condição única de Criador implica estar na raiz de Suas criações, que só assumem essa condição de criação divina se não forem caóticas, e sim ordenadas.

Então o culto e a adoração de Ogum são o culto e a adoração à qualidade ordenadora de Divino Criador Olorum, cujo caráter ordenador dá origem e sustentação à Lei Maior, ordenadora de tudo o que existe.

E assim, por intermediário das qualidades de Deus, vão surgindo Suas divindades, que na Umbanda são denominadas de Orixás, os Senhores do

Alto ou dos níveis superiores da Criação.

Na Umbanda não existe politeísmo, porque ela herdou dos cultos de nação apenas o caráter divino dos Orixás, aos quais reinterpretou e deu- lhes novas feições e novos atributos divinos, já que uma qualidade divina é infinita em si mesma, justamente por ser o que é: uma qualidade de Deus.

A partir daí surgiram as hierarquias intermediárias, repetidoras e multiplicadoras da qualidade original das divindades de Deus, que são em si a individualização de um de Seus aspectos.

Assim, se Deus dá origem a tudo, e deu origem a Ogum, já como seu aspecto ordenador, então Ogum O repete e se multiplica, dando origem aos Oguns intermediários, que são os aplicadores de sua qualidade ordenadora, mas já nos campos de atuação das outras divindades do Divino Criador.

Então a divindade ou a qualidade divina de Ogum faculta-lhe a

capacidade de repetir-se como ordenador, já em níveis intermediários da criação e de multiplicar-se nos campos das outras divindades, que darão suas .qualidades individuais à qualidade geral, ordenadora, que Ogum é em SI mesmo.

Daí vermos na Umbanda, Ogum e seus comandados ou seus Orixás oguns intermediários, que também são divindades porque são manifestadores da qualidade ordenadora de Deus, mas aplicadas aos campos das outras divindades, que se não são em si mesmas essa qualidade ordenadora, no entanto são em si as outras qualidades divinas.

Logo, se Oxum é a divindade do Amor ou da Agregação, tudo o que oxum conceber, pois é em si mesma a agregação ou concepção divina, agregará e conceberá ordenadamente.

Assim, se tudo o que Oxum agrega, agrega de forma ordenada, então Ogum está em Oxum como a qualidade divina que ordenará tudo o que ela agregar. E se Oxum é a concepção divina em si mesma, então Ogum está nela como a qualidade ordenadora das suas concepções.

E se Oxum é em si mesma o Amor Divino, então Ogum está em Oxum como a qualidade ordenadora do seu amor, pois se assim não fosse tanto as agregações quanto as concepções e os amores seriam caóticos, perderiam sua condição de qualidades divinas e não existiriam por si mesmos, pois não preexistiriam em Deus, que tem em Oxum Sua qualidade agregadora, conceptiva e amorosa.

Enfim, a teogonia de Umbanda foge do senso comum e recorre ao senso divino para poder interpretar corretamente as divindades de Deus que formam seu panteão divino.

Portanto, se as lendas sobre os Orixás os trouxeram para a terra, a teogonia de Umbanda os devolve aos seus devidos lugares e os reassenta à direita ou à esquerda de Deus.

à direita significa que atuam passiva e permanentemente, de forma contínua e estável na vida dos seres;
à esquerda significa que atuam ativa e condicionalmente, de forma alternada e não estável.

Como exemplo do que acabamos de citar, recorremos a Oxalá, o Orixá da Fé, que irradia fé o tempo todo a todos os seres. Sua atuação é passiva e não emociona a religiosidade de ninguém. E permanente e contínua.

Não se toma mais ou menos intensa, porque é estável.

Já Logunã é a divindade de Deus que se mostra na Umbanda como um Orixá do Tempo e só atua sobre os seres sob certas condições, tais como nos casos de fanatismo religioso.

Sua atuação é alternada, e tanto intensifica a fé quando ela se enfraqueceu, quanto a paralisa quando se tomou muito apaixonada ou emocionada; e não é uma atuação estável, pois atua sobre seres religiosamente desequilibrados, fanatizados ou emocionados.

A partir dessa dupla característica (ativa-passiva) as divindades formam a dupla polaridade do Divino Criador e vão assumindo campos de atuação distintos.

Se manifestam qualidades diferentes, no entanto são com­ plementares, pois Oxalá e Logunã são as duas "faces" do Mistério da Fé.

Oxalá e Logunã são os dois lados de um mesmo mistério de Deus, mas ocupam polos magnéticos opostos na irradiação divina que, partindo de Deus, está em toda a Sua criação e em tudo o que é "animado", mani­ festando-se como um sentimento de unidade em torno d'Ele, o nosso Pai Divino.

A Umbanda não interpreta sua teogonia como sendo formada por divindades dissociadas umas das outras e não as vê como antagônicas, como é o caso da teogonia Lorubá, pois sabe que na criação nada se antagoniza. Em verdade, tudo se complementa, dando forma e coesão à criação, às espécies, aos seres e às divindades.

Logunã não faz oposição a Oxalá, mas somente atua em um campo oposto ao dele nos aspectos da fé e no campo da religiosidade.

Assim, assentando em seu panteão as divindades magneticamente opostas, mas em verdade complementares, a Umbanda nos mostra uma teogonia magnífica.

Em nenhum momento, os aspectos divinos deixam de ser visíveis através do próprio caráter e natureza dos Orixás que a formam. Em momento algum as divindades se chocam, pois são em si mesmas os aspectos do Divino Criador que estão sendo mostrados a nós, cada uma atuando em um campo próprio e só seu, ainda que nele todos os aspectos divinos estejam presentes.

Assim como mostramos que Ogum está em Oxum, e vice-versa, também Ogum e Oxum (a ordenação e a agregação) estão em Oxalá e Logunã (a fé e a religiosidade).

A fé de um ser é permanente, já a sua religiosidade muda com o tempo. E este qualifica Logunã como um Orixá do Tempo, eterno em si mesmo mas sujeito às mudanças que ocorrem com a evolução dos seres no campo da Fé.

Com isso explicado, então o número de divindades cultuadas deixa de ser confuso porque a unidade religiosa da Umbanda não está nos seus Orixás, mas em Olorum, o Deus Criador que deu origem a tudo, inclusive a eles, que são Seus mistérios divinos e manifestadores individuais de Suas qualidades originais, todas aplicadas à vida dos seres e identificados na criação através da natureza das coisas criadas.

Vamos, agora, comentar cada uma das divindades de Deus que denominamos de Orixás ou Senhores das Coroas, e que regem a religião de Umbanda e o ori (cabeça) dos umbandistas.

Olorum, o Divino Criador, individualiza-Se nas Suas divindades, todas manifestadoras de Suas qualidades;

Na Umbanda, sete irradiações divinas dão origem às suas sete linhas de forças, todas bipolarizadas;

Em cada polo está assentada uma divindade, manifestadora de uma qualidade de Olorum;

O universo religioso da Umbanda, a sua teogonia, é composto por 14 divindades assentadas em seus pontos de forças naturais, de onde regem a natureza planetária, que é multidimensional;

Esses 14 Orixás dão origem a 14 hierarquias divinas, limitadas às atuações nos níveis vibratórios intermediários;

Essas hierarquias estão ligadas aos 14 Orixás. Umas são de natureza passiva, irradiante, contínua e atuam permanentemente na vida dos seres; outras são ativas, absorventes, alternadas e atuam temporariamente;

As sete irradiações divinas são: Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução, Geração;

Essas sete irradiações são manifestadas para tudo o que existe, porque, em nível de criação divina, elas estão na gênese ou nos processos criativos. Mas nós as absorvemos continuamente por meio dos nossos sete sentidos capitais;

Essas sete irradiações são captadas pelo Trono Planetário, que é em si mesmo a divindade de Deus que dá sustentação ao nosso planeta e a tudo o que aqui existe;

Ele capta as irradiações de Deus, as adapta ao magnetismo e à vibração planetária, depois as irradia, dando origem às sete irradiações gerais, que são captadas por sete Tronos de Deus; 

Os Sete Tronos de Deus são estes:

Trono da Fé ou Orixá da Fé

Trono do Amor ou Orixá do Amor

Trono do Conhecimento ou Orixá do Conhecimento

Trono da Justiça ou Orixá da Justiça

Trono da Lei ou Orixá da Lei

Trono da Evolução ou Orixá da Evolução

Trono da Geração ou Orixá da Geração

Nesses sete tronos têm início as sete irradiações divinas que, na Umbanda, são as suas sete linhas de força;

As sete linhas de força se polarizam e adquirem bipolaridade, formando 14polos magnéticos planetários e multidimensionais, tendo em cada um uma divindade, que é em si mesma uma qualidade de Deus e um mistério divino em si mesma;

Essas 14 divindades são os Orixás Ancestrais, aos quais todos estamos ligados por meio dos sete sentidos capitais e aos quais estamos sujeitos, pois a atuação deles em nossa vida independe de querermos ou não. Eles são mistérios de Deus, e atuam conosco tanto conscientes de sua existência quanto inconscientes;

Eles são Tronos de Deus, que na Umbanda assumem a denominação de Orixás. Mas em outras religiões têm outros nomes, sem perderem suas qualidades divinas e suas atribuições, que é a de regerem sobre tudo o que aqui existe, seja o meio onde vivemos ou tudo o que vive nesse meio, que é o nosso planeta;

Por isso um ser, pertença à religião que for, sempre estará sujei­ to às mesmas coisas (Fé, Amor, etc.), pois esses Tronos de Deus estão na origem de tudo o que aqui existe, inclusive das religiões, nas quais eles atuam por meio das divindades intermediárias que as iniciam mediante suas divindades intermediadoras.

A Umbanda nasceu de uma vontade divina manifestada pelo divino Trono Planetário, que se refletiu nos sete Tronos de Deus, que a manifestaram por meio de Suas sete vibrações mentais, que alcançaram os 14 Orixás assentados nos seus polos magnéticos.

Estes, por sua vez, as vibraram e toda uma nova religião nasceu naquele mesmo instante, faltando apenas a sua codificação e imantação divina para tomar-se em si mesma, uma senda religiosa pela qual evoluirão milhões de seres. Isso foi providenciado no mesmo instante pelas divindades ou Orixás intermediários, que mentalmente ativaram suas hierarquias intermediadoras.

Estas ativaram suas hierarquias elementais, encantadas, naturais e espirituais, que imediatamente deram início à codificação humana da nova religião, nascida de uma vontade manifestada pelo divino Trono Planetário, também denominado de divino Trono das Sete Encruzilhadas, o Logos Planetário;

Com isso explicado, então fica entendido que a Umbanda teve sua origem divina no mesmo trono que tem dado origem a todas as outras religiões.

Apenas que sua teogonia tem uma dinâmica própria que a diferencia de todas as outras religiões, inclusive daquela que serviu como base para o assentamento das divindades que regeriam seus aspectos religiosos: o Candomblé;

A religião que serviu de base para a Umbanda é a africana, com seus cultos de nação;

Em um culto de nação, a mesma divindade se mostra com um nome, mas no de outro povo africano ela se mostra com outro, sem perder sua qualidade de regente da coroa (cabeça) de seus filhos (seus adoradores);

Os nomes das divindades que formam a teogonia de Umbanda são os mesmos que tinham nos cultos de nação, e os que se fixaram com mais facilidade são nomes iorubás, já conhecidos por muitos há vários séculos, mas que, por meio da Umbanda, são conhecidos hoje em nível nacional até pelos adeptos das outras religiões;

Alguns desses nomes são originais, tais como: Ogum, Xangô, Oxum, Yemanjá, Yansã. Já outros são adaptações de nomes iorubás para divindades cultuados por outras nações africanas, tais como Oxumaré, Obaluaiyê, Nanã Buruquê;

Enfim, os 14 tronos planetários assumiram, na Umbanda, sua denominação iorubá, e foi assim que, pouco a pouco, foram se fixando na mente e no coração dos umbandistas, já que ela nasceu dentro dos cultos de nação e foi se destacando e assumindo feições próprias porque incorporou como natural as práticas de incorporação de espíritos de índios, de velhos sacerdotes africanos, de encantados infantis, de Exus e Pombagiras, e de espíritos oriundos de outras partes do mundo, todos congrega dos na nascente religião espiritualista;

Esses 14 tronos planetários pontificam as sete irradiações di­ vinas, já polarizadas em polos ativos e passivos; masculinos e femininos; positivos e negativos; irradiantes e absorventes; universais ou cósmicos.

Esses tronos são divindades de Deus e independem de nós para existir e ser o que são: mistérios manifestadores de qualidade divinas, encontradas n'Ele; Sete irradiações divinas; sete Tronos de Deus; sete linhas de forças; 14 Orixás regendo-as.

Como disse o venerável Espírito de Ramatís: "A Umbanda, portanto, ainda é o vasilhame fervente em que todos mexem, mas raros conhecem o seu verdadeiro tempero". 

Salve a Umbanda Sagrada!


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