UMBANDA A QUARTA REVELAÇÃO

Revelação com os Espiritos



Aceitando embora "integralmente a revelação kardeciana, a Umbanda pretende, no entanto, aperfeiçoá-la e ultrapassá-la. Para os umbandistas Kardec é grande, mas Umbanda é maior. Moisés trouxe a primeira revelação, Cristo veio com a segunda revelação, Kardec declarou o Espiritismo portador da terceira revelação, mas a Umbanda seria a última, a Quarta Revelação. 

Assim como Cristo retificou e superou Moisés, como Kardec corrigiu e suplantou Cristo, assim a Umbanda julga purificar e vencer Kardec, Cristo e Moisés. É que eles, os umbandistas, tiveram a dita de entrar em relações com espíritos superiores aos daqueles que ditaram suas mensagens para Allan Kardec, espíritos "que possuem mais vasta concepção do universo e reconhecem a existência de outra ordem de espíritos (não humanos) cujas relações entre os mesmos e os humanos não devem ser apenas de mero intercâmbio e sim de cultuação, o que exige (e mesmo para que o contato seja estabelecido) uma verdadeira ritualística" (E. Zespo, Codificação da Lei de Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p. 28).

São, por conseguinte, dois os pontos em que os umbandistas julgam corrigir e superar a codificação kardeciana:

1) Segundo Kardec todos os espíritos do além são almas "desencarnadas", não existindo outra ordem de seres espirituais (pelo que nega a existência de anjos e demônios, no sentido da tradicional doutrina crista); mas a Umbanda admite três tipos diferentes de espíritos no além: 

a) Os orixás (espécie de divindades, que estudaremos mais adiante); 

b) Os exus (espíritos ruins e perversos, denominados por eles de "elementais"); 

c) os eguns, que seriam os desencarnados. 

Os kardecistas, por não reconhecerem outro tipo de espíritos, só evocam os eguns, ou os desencarnados. 

Originariamente os africanos só evocam orixás e exus e "não queriam trabalho com eguns". Influenciados pelo Espiritismo, os umbandistas de hoje (que, aliás, em outros muitíssimos pontos se afastaram da primitiva religião africana, mormente na parte doutrinaria) evocam também os desencarnados, principalmente sob as formas de Pretos Velhos e Caboclos.

2) Os kardecistas são moderados e sóbrios no rito evocativo e desconhecem um cerimonial de culto; os umbandistas, pelo contrário, apresentam uma exterioridade e um ritualismo exuberante, exótico e complicado para a evocação e incorporarão dos vários tipos de espíritos, como, sobretudo, também, para a sua veneração e culto que, como adiante se verá, degenerou num verdadeiro politeísmo e mesmo em demonolatria.

Se bem que estas diferenças entre Kardec e Umbanda não atinjam a essência do Espiritismo como tal, em sua doutrina e em sua filosofia, não deixam contudo de modificar sensivelmente o aspecto e o aparato externo (que, por isso mesmo, é sempre acidental). É esta a razão por que a Umbanda se julga superior e a mais acabada forma de religião, a Quarta Revelação:

"Tanto quanto Kardec não quis destruir o Evangelho e apenas "esclarecer" a obra de Jesus, nós não queremos inutilizar a obra de Kardec e sim acrescentar mais uns capítulos, outrora não escritos, ao Livro dos Espíritos e ao Livro dos Médiuns (de Allan Kardec). Ao observador superficial parecerá que Umbanda é a retrogradação do Espiritismo; mas ao espírita verdadeiramente kardecista, e estudioso consciente, a razão e a lógica afirmarão que, se a obra do grande druida foi a Terceira Revelação, esta é então, e por justiça, a Quarta Revelação!" (E. Zespo, Codificação da Lei da Umbanda, Parte Científica, Rio 1951, p, 34).

E não é pouco. Os umbandistas não são modestos: "A Umbanda é a única religião que sobre a face da terra tem a autoridade suficiente para falar e tratar das coisas divinas" (A. Fontenelle, A Umbanda através dos séculos, Rio 1953, p. 15). 

Pois: "Tanto quanto o Budismo aproveitou quase tudo do Bramanismo, o Cristianismo conservou o melhor do Mosaísmo, assim a Umbanda aproveita, conserva e guarda o que de bom e aproveitável pode haver em todas as religiões do passado. 

A Umbanda não é apenas uma corrente religiosa: ela é o sincretismo de todas as correntes religiosas, ela guarda os fundamentos de todas as teogonias e resume as bases de todas as filosofias" (E. Zespo, obra citada, p. 8). Semelhante jactância sem medida é muito frequente entre eles. Escrevem e falam como se fossem os homens mais cultos deste mundo. Assim, por exemplo, podemos ler num dos livros do já citado Emanuel Zespo:

"Li o Damapada, o Bagavad-Gita; li a Bíblia, li o Evangelho, li Platão, Schopenhauer, Nietsche, Kant, Comte, Hegel, Agostinho, Aquino, Montefeltre; li Lao-Tsen, Vivekanda, Ramacharaka, Levi, Blavatsky, Besant, Leadbeater, Jinaraja- dasa, Max Heindel e mil outros, de todos os tempos, de todos os séculos… Enfronhei-me nas demonstrações do invisivel, com Gerard Encause, Hermes, Saint-lves d Alvidre, Nostradamus, Camaisar, BullverLytton, Oicott, os kabalistas, os esotéricos, os teósofos, os ocultistas, os magos; os fetichistas, os feiticeiros… Visitei, graças à criptologia, as civilizaçõeslêmures, atlantas, turânias, assírio-babilônia, medopersa, hindu, fenícia, greco-Iatina, ibero-celta, galo-druídica, teuto-scândia, siro-Árabe, mosaico-cristã, asteca, tolteca, maia, incaica… Andei nos mitos; cultuei Baal, Wotan, Zeus, Adonai; os 7 Sephirot: Osiris, Isis, Amon; orei na Porta do sol de Ouro; cantei as glorias do divino Lotus; reconheci que Marte era Changô; Afrodite ou Vênus era Iemanjá ou Iára; Wotan era Tupã; Brahma, Orixalá; Jeová, Oxalá; a Trimurti, Trin-magé… Sonhei com fadas, silfos, nereidas, gnomos, salamandras, ninfas, musas e ondinas, e encontrei ochúns, ochus, echus, dadás… Subi à Montanha do Sermão; desci ao lago da ilusão; li as tabuas de Jeová e ouvi as propostas de Belsebú, senti o êxtase de Sakia-Muni e vivi as perdições de Mara…" (O que e a Umbanda, Rio 1949, p. 83).

UMBANDA É MAGIA

Todos os autores umbandistas que temos em mão, quando definem este atual movimento denominado Umbanda, concordam em confessar que "é magia''. Um exemplo: "Umbanda é fazer magia por intermédio das forças invisíveis, baseada nas forças astrais, com rituais, preceitos, sinais cabalísticos, cânticos e outros elementos, como a água, o fogo, a fumaça, as bebidas, as comidas, os animais, apetrechos apropriados, etc." (cf. a revista Umbanda, Rio, Agosto de 1948, p. II; também Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 89 ed. p. 12, traz idêntica definição). O mesmo autor que dá esta definição, compara os umbandistas com os "alquimistas, feiticeiros, adivinhos, profetas e pitonisas do passado".

O Espiritismo Kardecista evoca os espíritos para deles ter notícias, obter comunicações doutrinárias, ou ainda, quando se trata de espíritos atrasados, para instruí-los; mas não os explora com o fim de fazer certos "trabalhos" a favor ou contra determinadas pessoas. Os kardecistas, por conseguinte, se limitam ao que antigamente era conhecido sob o nome de "necromancia". A Umbanda, porém, vai bem mais longe: veremos adiante, quando tratarmos do culto ao Exus, considerados "os agentes mágicos universais", que estes espíritos são evocados por meio de ritos, sinais cabalísticos ("pontos riscados"), versos evocativos ("pontos cantados") e objetos (galos pretos, charutos, cachaça, velas, etc.) que lhe são oferecidos ("presentes", "despachos"), para conseguir que se ponham ao serviço do homem e façam ou desmanchem determinados "trabalhos". E isso é magia no sentido mais estrito da palavra.

Ora, tanto a necromancia dos kardecistas, como a magia dos umbandistas, foi rigorosamente interdita por Deus. A magia, porém, foi proibida com particular severidade. Deus ameaçou punir a magia com os mais tremendos castigos. Diz-nos a Sagrada Escritura que povos inteiros foram exterminados porque praticavam a magia. Eis alguns exemplos: Em Lev 20, 6 diz o Senhor: "A pessoa que se dirigir a magos ou adivinhos e tiver comunicação com eles, eu porei o meu rosto contra ela e a exterminarei do seu povo". E outra vez recebemos a ordem terminante: "Não vos dirijais aos magos, nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles. Eu sou o Senhor vosso Deus" (Lev 19, 31). E temos, sobretudo, esta grave admoestação: "Não se ache entre vos quem consulte adivinhos ou observe sonhos e agouros, nem quem use malefícios (despachos!), nem quem seja encantador, nem quem consulte pitões ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas, e por tais maldades exterminará estes povos à tua entrada. Serás perfeito e sem mancha como o Senhor teu Deus. Estes povos, cujo país tu possuirás, ouvem os agoureiros e os adivinhos; tu, porém, foste instruído doutro modo pelo Senhor teu Deus" (Deut 18, 12-14).

Também no Novo Testamento damos com idênticas proibições. Temos ai o exemplo de um certo Simão "que praticava a magia e iludia o povo": "Toda a gente Ihe dava ouvidos, desde o menor até ao maior, dizendo: Este é a virtude de Deus, que se chama grande. Aderiram-lhe, porque os fascinara, por largo tempo, com as suas artes mágicas" (At 8, 9-11). De quantos babalaô e "pai de santo" dos nossos terreiros umbandistas se poderiam dizer ainda hoje o mesmo! Mais adiante, ainda nos Atos dos Apóstolos, encontramos São Paulo diante dum certo Elimas, que era mago e feiticeiro; mas Paulo encarou-o firmemente e disse: "Ó filho do demônio, cheio de toda a falsidade e malícia, inimigo de toda a justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor? Eis que vem sobre ti a mão do Senhor; serás cego e não verás o sol por certo tempo" (At 13, 10). Em Éfeso o grande Apóstolo das gentes, além de muitas conversões, conseguiu ainda o seguinte resultado: "Outros muitos que tinham praticado artes mágicas, trouxeram os seus livros e os queimaram aos olhos de todos; calculou-se o valor deles em cinquenta mil dracmas de prata" (At 19, 19).

Axé


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