UMBANDA E QUIMBANDA
Práticas de Mágias
Querem alguns distinguir entre Umbanda e Quimbanda, dizendo que ambos praticam a magia, sim, mas com a diferença de que em Umbanda ela é feita apenas para o bem (e seria a Magia Branca) e em Quimbanda os trabalhos seriam exclusivamente maus (Magia Negra). A este respeito, contudo, o Sr. Aluísio Fontenelle, que se diz "sacerdote dos diversos cultos de Umbanda", garantindo ser "conhecedor real de todas as práticas que se exercem, nos diversos terreiros", considerando-se por isso "catedrático no assunto" (cf. Exu, Rio 1952, p. 94), escreve o seguinte:
"Na sua essência última, a Quimbanda é em quase tudo idêntica ao que se cultua na Umbanda, uma vez que daquela surgiu esta última. Digo que a Umbanda é uma parte da Quimbanda, pelo fato de que a sua composição, suas atividades, suas divindades, suas lendas, seu ritual (em grande parte), seu protocolo, enfim: as suas crenças estão perfeitamente irmanadas dentro do mesmo sentido, divergindo apenas no que diz respeito à indumentária e certas práticas na comunhão dos seus trabalhos espirituais. A Quimbanda continua no firme proposito de manter as antigas tradições dos seus ascendentes africanos, ao passo que a Umbanda procura, pelo contrário, afastar completamente esse sentido incivilizado das suas práticas, devendo-se a influência do homem branco, cujo grau de instrução, já não as admite" (A. Fontenelle, O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei de Umbanda, Rio, p. 81).
E ainda que, teoricamente, digam alguns umbandistas que eles querem apenas a Magia Branca, (que, aliás, também é proibida por Deus!), a realidade dos terreiros, todavia, afirma bastas vezes o contrario. O Sr. Oliveira Magno, em Prática de Umbanda, Rio 1952, p, 70, conhece umbandistas "que fazem, nos fundos da suas tendas ou terreiros, ou então, em suas residências, os mesmos trabalhos", isto é: Fazem trabalhos "para obrigar o namorado ou amante a voltar e se casar; para amarrar o homem com a mulher; para que o marido se conforme com a mulher ter o seu amante; para uma mulher tirar o homem de outra; para que o homem só tenha potência para uma mulher; para se saber em sonho com quem vai casar-se; para amarrar a vida e negócio dos outros e os arruinar; para obrigar os outros a fazer o que não é justo; para castigar os inimigos, pô-los doentes ou então os matar, etc.".
Também outro autor reconhece a existência de muitos umbandistas "que ainda procedem assim, aumentando a cegueira e ignorância desses infelizes irmãos, e pior ainda, fazendo despachos com fins malévolos, projetando falanges atrasadas contra irmãos encarnados desprevenidos e incrédulos, que na maioria das vezes sofrem o efeito sem compreenderem a origem do mal que estão padecendo, por desconhecerem a Umbanda e a Quimbanda" (Florisbela M. Sousa Franco, Umbanda, Rio 1954, p. 131).
Reconhecemos, todavia, a existência de terreiros de Umbanda que "só querem fazer o bem", que fazem uso da magia e recorrem aos serviços dos exus "apenas para obter bons efeitos", ou para "desmanchar" os malefícios da Quimbanda. É, porem, inegável que também nestes meios, onde não negamos haver boa fé e excelente vontade, existe tremenda confusão religiosa, é praticada a evocação dos espíritos, é oferecido um verdadeiro culto aos exus, é pregada a heresia da reencarnação e são identificados os Santos Cristãos com deuses pagãos, como adiante se verá.
O PANTEÍSMO DOS UMBANDISTAS
No Primeiro Congresso de Umbanda foi aprovada a quinta conclusão, formulada nestes termos: "Sua filosofia consiste no reconhecimento do ser humano como partícula da divindade, dela emanada límpida e pura, e nela finalmente reintegrada ao fim do necessário ciclo evolutivo, no mesmo estado de limpidez e pureza, conquistado pelo seu próprio esforço e vontade".
Afirma-se, pois, que nós (o "ser humano") somos "partículas da divindade", que "emanamos" de Deus. Tais expressões são comuns na literatura umbandista: "A alma humana é de essência divina", ensina o livro oficial da Confederação Espírita Umbandista, Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio 1051, p. 70. Nesta mesma obra lemos expressões ainda mais fortes: "Deus é o Todo e eu Sua parte"; "Deus dorme no mineral, sonha no vegetal, desperta no animal, é consciente no homem, que, deste modo, pode atingir a perfeição"; "o fim da evolução é, para o homem, a completa realização de sua divindade, a identificação de seu próprio ser com a Realidade única" (p. 40).
Essa identificação da criatura com o Criador evidentemente despersonaliza Deus. O Deus panteísta de Umbanda já não é o Deus Pessoal e Consciente dos cristãos. O Deus umbandista do qual "emanam" todos os seres, não é o Deus cristão que "no princípio criou o céu e a terra" (Gen 1, 1). O Deus umbandista, identificado com o Universo, não é o Deus cristão anterior a toda criatura, independente do mundo, infinitamente superior ao universo limitado e mutável, Senhor absoluto e Criador de todas as coisas existentes fora d'Ele, o Deus pessoal, individual e singular, de que nos falam as Escrituras. O homem umbandista, "partícula da divindade", jánão é o homem cristão "que Deus criou do nada" (2 Macab 7, 28).
Mas o Deus dos cristãos não é apenas um Ser Infinito, anterior ao mundo e dele essencialmente distinto, Ele é também um Ser subsistente em Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É o augusto mistério da Santíssima Trindade. E a fé cristã ainda nos ensina que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo: a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Ora, tudo isso não é concebível num sistema de filosofia panteísta, qual o de Umbanda. Razão pela qual os umbandistas apoiam os kardecistas na negação da Santíssima Trindade e na contestação da Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. A respeito da natureza de Cristo transcrevemos aqui uma passagem do umbandista Lourenço Braga, Umbanda e Quimbanda, 8ª ed., que é entre todas as obras sobre Umbanda a mais difundida e serve como manual em numerosos terreiros. O trecho que transcrevemos pode ser encontrado na p. 45 s. Ei-lo:
"Devemos nos lembrar de que naquela época existia na Terra um homem sábio, inteligente e virtuoso, que se chamava José de Arimatéia. Esse homem era o chefe de uma Seita de Cabala (Ciências ocultas, Maçonaria, Esoterismo, Magia). Seita esta que possuía muitos discípulos com vários graus de adiantamento moral, espiritual e intelectual, destacando-se dentre eles João Batista, o mais evoluído. José de Arimatéia, vendo em Jesus, aos 12 anos, um espírito adiantado, quero dizer, espiritualmente evoluído e reconhecendo ser ele um predestinado, tratou de educá-lo carinhosamente, desenvolvendo nele os dons mediúnicos que ele possuía, em estado latente, e ensinando-lhe os mistérios da Cabala e toda a filosofia da seita, da qual era o supremo chefe. Esse aprendizado durou quase 18 anos, época em que Jesus, afinal, atingiu a casa dos 30 anos de idade. Espírito missionário animando um corpo carnal, inteligência privilegiada, alma boníssima, evoluído bastante pelas inúmeras encarnações por que passou e tendo recebido de José de Arimatéia sábios ensinamentos científicos e filosóficos e tendo também desenvolvido os dons mediúnicos de vidência, clarividência, audição, clariaudição e transporte, entrou em contato com os seres do plano astral superior e do plano sideral, por meio das quais aumentou o seu cabedal de conhecimentos, adquiriu convicção forte, fé inabalável, etc., podendo fazer, destarte, o que fez, sem se deixar arrastar pelas paixões do mundo, sem se abater, sem se orgulhar; curando, ensinando a sua doutrina, pregando por parábolas, doutrinando os povos dos lugares por onde passava, fazendo enfim verdadeiros trabalhos de Magia mental e astral…" Teríamos, portanto, um Jesus que não é Deus, mas um espírito "evoluído bastante pelas inúmeras encarnações por que passou" e que foi estudar Ciências ocultas, Maçonaria, Esoterismo e Magia na Escola de José de Arimatéia…
FATAIS CONSEQUÊNCIAS DA DOUTRINA REENCARNACIONISTA
"A Umbanda, como o Espiritismo, aceita a lei das reencarnações e outros pontos doutrinários expostos pelo Espiritismo" (Samuel Ponze, Lições de Umbanda, Rio 1954, p. 10). Quando mostramos a identidade substancial entre Umbanda e Kardec, já citamos outras declarações autorizadas dos meios umbandistas, inclusive a quarta conclusão do Congresso de Umbanda, constando assim que, embora haja muita divergência entre eles, neste ponto fundamental e doutrinário, todavia, todos eles concordam com voz uníssona: O homem não vive uma só vez sobre a terra; já viveu muitas vidas no passado e por outras muitas deverá passar, não apenas neste planeta terra, mas através de numerosas estrelas mais perfeitas, até alcançar a perfeição final, quando, então, tornará a reintegrar-se na divindade, no mesmo estado de limpidez e pureza em que dela emanou. E esta perfeição final, ensina a quinta conclusão do Congresso de Umbanda, o homem a conquistará "pelo seu próprioesforço e vontade".
Se analisarmos bem a filosofia reencarnacionista de Kardec, integralmente homologada pelos umbandistas, verificaremos que ela se resume nestes quatro postulados: 1) pluralidade das existências terrestres, 2) progresso contínuo depois da morte, 3) expiação própria e evolução por méritos rigorosamente pessoais, 4) sempre novos corpos e, afinal, vida puramente espiritual, sem corpo material. Ora, não é preciso ser grande teólogo, para saber que Cristo, contra o princípio reencarnacionista da pluralidade das existências, ensina a unicidade da vida terrestre; contra o princípio reencarnacionista do progresso continuo depois da morte, ensina a existência e a eternidade de um estado e lugar de condenação sem fim chamado inferno; contra o princípio reencarnacionista de expiação própria e do aperfeiçoamento por méritos rigorosamente pessoais, ensina a nossa redenção por Sua sagrada paixão e morte; contra o princípio reencarnacionista de uma vida definitiva e puramente espiritual, ensina a ressurreição final de todos os homens. São quatro ensinamentos de Nosso Senhor, que se encontram não apenas em um ou outro texto esporádico ou de significação duvidosa, mas que perfazem, por assim dizer, o cerne da mensagem cristã. Mas os espíritas, precisamente por causa da filosofia reencarnacionista que adotam, se viram forçados a riscar grande parte do Evangelho, chegando por isso a negar a própria Bíblia. Endossando a teoria da reencarnação, os umbandistas devem logicamente acompanhar os kardecistas na triste negação de tantas verdades evangélicas e cristãs. Mas com isso mesmo os umbandistas se colocam fora do Cristianismo.
Axé